CO2 E FERTILIZAÇÃO PELÁGICA COM FERRO
A fertilização pelágica com ferro com vista a capturar o CO2 atmosférico para fixá-lo no fundo do oceano parece mostrar resultados pouco promissores, mas há factores importantes no processo que poderão ser aperfeiçoados, caso as experiências continuem e os argumentos científicos contra elas se mentenham mais irrelevantes que a aparentemente demonstrada relevância de este tipo de experiência, enquanto ensaio de técnicas novas de controlo do CO2 atmosférico: «A maior investigação de fertilização dos oceanos com ferro para retirar parte do dióxido de carbono que existe em excesso na atmosfera não está a resultar, pelo menos nas condições feitas pela Lohafex. O projecto conjunto entre a Alemanha e a Índia tinha como objectivo lançar cerca de seis toneladas de ferro no Oceano Antárctico para estimular o crescimento das algas, que fixam o CO2 atmosférico. Esperava-se que as algas se depositassem no fundo do oceano depois de morrerem, acumulando aí o CO2 fixado. Mas não, os cientistas da Lohafex adiantaram que pouco dióxido de carbono tinha saído do ciclo natural. “Tinha havido esperança que fôssemos capazes de retirar algum do excesso de dióxido de carbono – num certo sentido voltar a pô-lo de onde ele veio, porque o petróleo que estamos a queimar era originalmente feito pelas algas”, explicou, citado pela BBC News Victor Smetack, do Instituto de Alfred Wegener na Bremerhaven. “Mas os nossos resultados mostram que a quantidade vai ser pequena, quase negligenciável.” Os responsáveis da expedição sublinham que o projecto tem proporcionado muita informação científica, mas que a fertilização não teria impacto na redução do maior responsável pelo efeito de estufa da Terra, pelo menos naquele local. O metal deitado ao mar, numa área de 300 quilómetros quadrados, iria estimular o crescimento do fitoplâncton – algas muito pequenas. Para crescerem e multiplicarem-se, as algas precisam do CO2, que retiram do ar. Há quase dez anos que se investiga nesta área e esperava-se que quando as algas morressem, o material orgânico se depositasse no fundo do oceano ficando aí acumulado o CO2 durante um longo período de tempo, longe da atmosfera. Em vez disso o fitoplâncton passou a ser comido por copépodes – artrópodes minúsculos que fazem parte do zooplâncton – que por sua vez foram comidos por crustáceos maiores. A maioria do CO2 manteve-se assim na teia alimentar e voltou à atmosfera. Muito pouco foi acumulado no fundo dos oceanos. “Isto quer dizer que o Oceano Antárctico não pode sequestrar a quantidade de dióxido de carbono que esperávamos”, concluiu o professor Smetacek. Uma questão importante é o tipo de algas que crescem quando existe mais ferro disponível no ambiente. Investigações que já foram feitas mostraram que o ferro promove o crescimento de diatomáceas, organismos com uma carapaça de sílica. Mas no local da experiência de Lohafex não havia sílica suficiente para o crescimento destes organismos. Alguns cientistas já tinham argumentado que nem sempre é a (pouca) quantidade de ferro que limita o crescimento das algas, e previam que a aposta neste elemento seria ineficaz. Estes resultados parecem dar razão aos cientistas. A Greenpeace esteve desde o início contra este projecto, argumentando que a expedição ia poluir o oceano ao lançar ferro para a água. “Há duas coisas que nos preocupam”, disse David Santillo à BBC News, cientista da Greenpeace. “Primeiro, há um impacto directo das experiências, e à medida que a escala das experiências vai aumentando, há um potencial maior para que ocorram um impacto directo dessas experiências.” “Mas a segunda preocupação, que é mais abrangente, é que se vamos continuar a trabalhar nisto como uma estratégia de mitigação climática, então estamos a olhar para um mundo onde dependemos da manipulação do oceano a uma escala realmente enorme e isso teria sem dúvida consequências grandes e possivelmente irreversíveis no ecossistema dos oceanos.”No início do ano, o Governo alemão pôs o projecto em compasso de espera devido a estes avisos, mas posteriormente deu luz verde. Neste momento, a posição oficial do instituto é contra um uso sistemático do ferro para reduzir o gás. “Com base nos conhecimentos actuais, o Instituto Alfred Wegener opõe-se a uma utilização em larga escala de fertilização de ferro [no oceano] como objectivo de reduzir o CO2 para regular o clima”, diz um comunicado assinado pelo director do instituto, Karin Lochte. A empresa Climos está a planear uma experiência com o mesmo sistema numa área ainda maior de 40.000 quilómetros quadrados no oceano. Espera receber subsídios através do mercado global de carbono se conseguir demonstrar através da técnica que pode sequestrar grandes quantidades de CO2.»
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