O SANITARISMO DE D. ILÍDIO LEANDRO


Não ousando antecipar que resposta terá o Vaticano na manga para o Bispo de Viseu, convém desde já atribuir as costumeiras palmadinhas nas costas às declarações de D. Ilídio: muito bem, a saúde é uma responsabilidade e portanto o preservativo pode configurar um imperativo moral básico. Sim, senhor! Mas depois fica complicado compreender o que é, para D. Ilídio, vida sexual activa. Segundo parâmetros morais e éticos evangélicos, 'vida sexual activa' não pode ser uma vida sexual desenfreada, aventureira, promíscua, irresponsável, experimentalista. Enfim, todos os seres humanos buscam realizar-se, excedem-se nessa busca e por vezes morrem no processo. Aqui cabe bem a palavra estimulante e exigente da Igreja no caminho dos vivos convertidos ou em processo de conversão para, se o for (tumultuada, descontrolada), deixar de o ser. Uma velha palavra dignificadora, nada platónica, pedagógica sobre a sexualidade humana e a novidade cristã de a viver, para além do paliativo sanitarista chamado preservativo. Porque se a Igreja media uma salvação do Homem todo e de todo o homem não pode escamotear, por isso mesmo, um meio sanitário como esse em contextos e comportamentos de risco. Só que não chega. Há um apelo à integridade, a um sentido transcendente e ao amor, na vivência da sexualidade cristã, que só pode ser activada na lealdade, numa fidelidade projectiva, contida mas não avara e não-pagã. Estou certo que D. Ilídio pronunciou-se movido pela compaixão e um sentido de diligência prática contra os riscos que as pessoas correm com os seus comportamentos 'intensos'. Acontece que o Vaticano não pretende que o anúncio exigente do Evangelho se transforme no Anúncio do Preservativo, do Kama Sutra, da Pílula, do Diafragma. À Igreja o que é da Igreja e não é pouco. E aos Serviços de Saúde e Prevenção o que lhes cabe por força. Em Igreja, não acredito nem numa proibição que não orienta nem numa caução que desorienta. O sentido espiritual do sexo, segundo a Igreja, merece bem melhor serviço que a pequena mercearia dos interditos atávicos e dos permissivismos alarves: «A Santa Sé está a preparar uma resposta oficial às declarações do bispo de Viseu D. Ilídio Leandro que defendeu, num texto publicado no site da Diocese de Viseu, que quem tem uma vida sexual activa tem “obrigação moral de se prevenir e não provocar a doença na outra pessoa. O bispo disse ainda que “aqui, o preservativo não somente é aconselhável como poderá ser eticamente obrigatório”.»

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