Nunca escondi aqui o quanto admiro José Gomes Ferreira. As questões que ontem tentou colocar a um esquivo Paulo Campos embaraçaram o ex-secretário de Estado para além de qualquer medida: por mais água que bebesse, a língua permanecia-lhe seca como um pergaminho bíblico, engolia em seco a cada instante, e a tartamuda gaguez era um espectáculo imperdível do absoluto deprimente. Em vão andaram os Valupis, esses Alquimistas da Treta Dourada, a prepará-lo toda a tarde, a treiná-lo toda a noite, juntos a simular quaisquer hipóteses
perguntadeiras na entrevista a sério, a exercitá-lo para a grande lógica ilusionista do socratismo: para um papel há sempre outro papel e para um gráfico há sempre outro gráfico diferente, assim como para um relatório, um contra-relatório. Puta que o pariu! País de merda que consente trastes destes a decidir o nosso pescoço em milhares de milhões traficando influências entre a Banca, as Construtoras e o Diabo a Quatro, e depois a passar por seráfico, abnegado e frugal como qualquer de nós que mal sobrevivemos. Paulo Campos é um pacóvio, não apenas pelas monstruosidades que teve o poder de decidir, mas também porque na hora de se apresentar de cara limpa e tranquila diante do auditório, exibe-se tal como é: com a cara deslavada da impostura. Impossível dar o benefício da dúvida e a presunção de inocência a tantos milhares de milhões de euros levianamente negociados. Basta o estigma da fuga para Paris e o horrendo panorama nacional para tingir de estrume todos os que se relacionaram com Sócrates, culpados de grande parte dos males que nos afectam. Como desenrascar o homem Campos dos relatórios e pareceres mais recentes e fidedignos que entalam a aventura político-comissionista das PPP rodoviárias e outras? Invocar os relatórios e pareceres mais antigos, feitos à medida do freguês-Privado, martelados, na forma e no conteúdo, para passarem como se não fossem um assalto ao contribuinte pelas décadas das décadas. A mim não bastam as declarações orais e informais de Paulo Campos sobre os seus rendimentos, as suas amizades ou o que ele tenha ou não a temer: quero uma lei [há pouco tempo lançada ao lixo por Cavaco] que escrutine isso mesmo, pois os Portugueses se se vêem hoje oprimidos e sem esperança, parte da calamidade diz respeito a dívida, a juros brutais de dívida, a negócios abomináveis com impactos graduais no presente e no futuro imediato. Toda a gente sabe isso e apenas um feixe de filhos da puta comprometidos, guarda pretoriana do assaltante-mor, se aposta todo em escamotear isso pelo silêncio ou pela converseta da treta nos blogues-trincheira que defendem o indefensável. Quanto a isto, nada havia a esperar do aselha Pinto Monteiro, mas, com a nova Procuradora-Geral, pode ser que a vergonhosa verdade avulte, uma verdade que nos poupe a estas agruras ou as suavize.
Comments
Só agora ouvi um pequeno excerto das declarações desse canalha.
Teve a lata de dizer que agora é o pai que o está a judar a pagar despesas.
Imaginem escutar isto de quem vive numa luxuosa moradia que custou certamente alguns milhôes de euros.
Não desistem de querer atirar-nos areia para os olhos.
Temos que encontrar forma de "liquidar" esta escumalha.