IRRESPONSÁVEL, SENIL, DESPREZÍVEL
Quem diria, aos noventa anos, um tal magistério miserável de impudica putrescência. Manifestamente essa bola de hipocrisia e facção é um estorvo a Portugal. |
«Em tempos duros, manter a cabeça fria e cultivar a sensatez é um desafio difícil. Mas é o que se exige a quem está no Governo, na oposição e em cargos de liderança nas organizações que se sentam à mesa que está reservada aos parceiros sociais. Também não podem ficar de fora aquelas figuras de referência que, pelo seu passado e currículo, são apelidadas de senadores, como é o caso de Mário Soares.
Contra aquilo que seria expectável e desejável, o antigo Presidente da República tem-se destacado através de intervenções que não honram as circunstâncias turbulentas e complicadas em que exerceu funções governativas, quando aceitou dar a cara por medidas de ajustamento que justificou com argumentos que o actual Governo não desdenharia. Em três intervenções externas que já foram realizadas em Portugal durante o regime democrático, Mário Soares estava ao leme do poder executivo em duas.
Teve de enfrentar e superar ameaças de bancarrota. Viu-se forçado a estender a mão a quem estivesse disposto a financiar um país de finanças exauridas. Subscreveu, enquanto primeiro-ministro, compromissos que, para serem cumpridos e garantirem que a torneira das ajudas financeiras não se fechariam, colocaram Portugal sob pesados fardos de austeridade.
Entre as muitas personalidades a quem é atribuído o tal estatuto de senador, Mário Soares é aquela que, pela sua experiência em momentos decisivos na História recente de Portugal, mais motivos tem para perceber que, entre a manifestação da crítica e da discordância e o papel de incendiário de serviço, existe a distância que tem de separar o sentido das responsabilidades da mera intriga política.
Caso se some o silêncio cúmplice que protagonizou perante o desastre da governação de José Sócrates às sugestões mais recentes para que Cavaco Silva abra uma crise política em cima da grave crise económica e financeira que o país atravessa, fica claro que o sectarismo e o jogo de finta curta se tornaram nas principais fontes de inspiração de Soares. É pena. Porque é num momento de extremas dificuldades, maiores e mais profundas do que aquelas que o ex-Presidente teve pela frente, que são mais necessárias as vozes com autoridade para ajudarem a estabelecer pontes e mais dispensáveis as que optam por se dedicar a cavar mais fundo as divisões.
O Governo actual contabiliza erros e fracassos. Prometeu ser um campeão na consolidação das finanças públicas através da redução da despesa, mas está a proceder ao mais violento aumento de impostos de que há memória. De outra forma, não conseguiria cumprir metas e assegurar a chegada dos cheques que permitem pagar salários e pensões. Garantiu que reformaria as administrações públicas e que as encolheria para uma dimensão que as famílias e as empresas portuguesas tenham capacidade para pagar, mas corre, mês após mês, atrás de tudo o que possa ser tributado e proporcione mais receitas perante cada sinal de desvio na execução orçamental. E, mesmo sem a mãozinha de Mário Soares, embrulhou-se numa lamentável crise de confiança interna.
Tudo isto é mau. Mas não compreender que o país está condicionado e dependente da confiança que vai conseguindo gerar no exterior é irresponsabilidade ou má fé. Para os credores, uma crise política, com mudança de Governo sem o recurso a eleições, seria um valente tiro no pé. Se Mário Soares não entende isto, para que serve este senador?» João Cândido da Silva
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Para este senhor o seu umbigo é o centro de universo e tudo gira em volta dele.
Para este senhor o seu umbigo é o centro de universo e tudo gira em volta dele.