DILMA OU CABOTAGEM CABOTINA
O fim de quem governe com um olho demasiado gordo na sua popularidade não pode ser bom. Menos ainda se forem dois os olhos colocados na popularidade. Mandela não precisou disso. Bastou ser ele mesmo. Bom. Compassivo. Humilde. Mas o fim de quem governa segundo os índices de aprovação pode ser um desastre patético caso a dormência da inacção e volúpia da corrupção sigam como dantes, quartel general de Abrantes. É o caso nítido e notório do PT de Lula e Dilma. Este partido mergulhou de cabeça no lodo de Brasília. Vai ser difícil lavar as vestes no sangue do martírio ou na virgindade da actuação para começar tudo de novo. Se hoje o Palácio do Planalto cai em popularidade, essa queda pode bem ser inexorável, tal como a ascenção de Joaquim Barbosa, um homem probo, ou a realização do plebiscito anunciado com apoio de 68% dos inquiridos. Este é o clímax de um desgaste, a crise da imagem da Presidente cujos maus sinais foram dados a um auditório português incrédulo, é preciso relembrá-lo, aquando da mais recente visita a Portugal. Caprichosa e antipática, Dilma esteve horrível na pose e péssima no protocolo.
O certo é que o PT já não pode deixar de passar colado aos piores índices de corrupção de sempre, venha dizer o que quiser Rui Falcão, presidente do Partido. É bom que os petistas comecem a tomar consciência disso antes que a queda se mostre feia. Por exemplo, as medidas anunciadas por Dilma — criação de um grupo de representantes eleitos pelo povo para propor mudanças na Constituição — ainda só é um anúncio e não se sabe se a máquina de engonhar do sistema planaltista permitirá que se reforme. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, PT-SP, assim como outros tentam, explicar pelo que melhor lhes convém esta queda de popularidade da presidente, alargando o âmbito do questionamento popular. Há um ataque pessoal e um sentimento de traição nas causas cívicas associado à figura política da Presidente, isso é óbvio, para além do invectivar de todos os demais políticos. A omertà político-partidária funciona, na hora H, tal como em Portugal: em bloco para proteger o sistema que a ceva. De coisas muito concretas se faz o protesto: não se pode ter estádios de luxo e serviços públicos de merda, a sensação que tudo se faz para ostentar um País de primeiro mundo no acessório, mas com uma saúde pública que piorou, uma segurança pública que piorou, um transporte público que piorou, uma inflação que pode piorar — muito em função das alterações proclamadas pelo FED norte-americano na sua política monetária e dos Estados Unidos no plano das transacções comerciais, cuja linha proteccionista recrudescerá, o que certamente alterará equilíbrios monetários que importam ao Real —, no desemprego que pode piorar, deslizando o gigante lusófono sul-americano para um tipo de incerteza quase europeia, não fosse a economia 60% de psiquismo de massas. E o que dizem os políticos do PT? Que a inflação está sob controlo, que o Brasil experimenta o pleno emprego contra uma crise mundial de dívida pública, injecções de capital estatal no sistema bancário europeu e sobretudo uma taxa de desemprego calamitosa, casos da Grécia, da Espanha, de Portugal. No Brasil, mesmo o poder de consumo aumentou, se excluirmos o consumo assente em pilhagens de massas desordeiras, repletas de criminosos e de excluídas. Aquilo que os petistas afirmam, a sociedade não sente, caso contrário não se manifestaria, rasgando as praças, aos milhares, numa teima inédita, tendo o rastilho sido a crise nos transportes antes de alastrar ao que estava entalado nas gargantas e à vista dos olhos. O Governo Federal está no cerne disto, claramente. As últimas manifestações inauguraram uma dinâmica cívica nova, um tsunami de indignação justificadíssima. Ela não pode ser escamoteada por ninguém, nem pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, quando reduz a questão da baixa de popularidade de Dilma Rousseff a uma mera questão conjuntural. Essa baixa pode ser estrutural porque nestas manifestações e protestos, Dilma esteve efectivamente no centro do apupo, no âmago da vaia. Sair de si mesma e de uma tendência arrogante no exercício das suas funções pode ser mais complicado que passar a pasta a outro. A cabotina cabotagem da governação dilmista terá de aprender as regras para a grandeza. Pergunto-me o que pensa disto o vampiresco dr. Soares. Será que, para ele, Dilma se deve demitir?!
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