SOCRATISTAS LAVAM MAIS BRANCO
Continuo a pensar que a entrevista que Teixeira dos Santos à TVI é mais uma manifestação de branqueamento histórico de uma história mal contada. As razões que levaram Portugal ao pedido de ajuda externa não podem ser objectivadas por aqueles que degradaram o rating português e viram a dívida escalar num par de anos até à vulnerabilização final atribuída ao chumbo de mais um PEC, o IV. O testemunho de Teixeira dos Santos não vale e não colhe tal como não vale nem colhe dizer do passado o que nos apeteça para que nos apareça com a melhor cara possível. O pedido de resgate era inevitável e ao PEC IV teriam certamente sucedido PEC sucessivos e intermináveis, num apodrecimento que nada poderia apaziguar. Fala-se do efeito dominó provocado pela crise grega, mas deveria falar no efeito dominó dos nossos problemas estruturais e da nossa política doméstica assente no regabofe da dívida pública, na ineficiente cobrança fiscal e nula competitividade da economia, com os seus sectores protegidos sempre prósperos e o sector produtivo mirrado e paralisado. Portugal foi forçado a pedir ajuda externa porque, em plena crise das dívidas soberanas, o PS esgotou as soluções tiradas da cartola procurando imputar a toda a Oposição o ónus de uma Governação amadora e amiguista, com demasiadas swap e PPP para ser verdade. Portugal foi forçado a pedir ajuda externa porque o Governo Minoritário PS se demitiu, porque a credibilidade da sua governação era nula. Teixeira dos Santos diz que havia uma alternativa ao pedido de ajuda externa. Por que não disse que um Governo de Coligação, e não minoritário como esse, corporizaria melhor essa alternativa?! Por que não disse que o facto de o PS hostilizar a Esquerda e a Direita, vexar e desconsiderar Passos Coelho tal como rebaixara a Velha Ferreira Leite, o isolou nessa alternativa rejeitada no Parlamento?! E por que motivo o apoio europeu era importantíssimo para a aprovação do PEC IV e já não interessa para nada agora que existe, é europeu, e apoia em toda a linha o Governo Passos?! Não é a mesma Europa?! Mesmo que o PEC IV fosse a melhor saída, já ninguém suportava a personalidade histérica e hostil de Sócrates, toda a putrefacção do sistema amiguista socialista, a contaminação das instituições do Regime-PS, a colonização-PS do Aparelho de Estado. Um Estado respirável urgia. Lobo Xavier deveria sabê-lo, tal como Pacheco Pereira, se não padecesse desse misterioso mal-fodidismo intelectual ressabiado anti-Passos que o cega. Não há, por isso, qualquer versão deturpada da história do Resgate. O poder caiu de maduro no colo do PSD e do CDS-PP porque o Partido Socialista esbanjara quinze anos para corrigir uma trajectória estruturalmente mortífera para o País. Não se pode, por isso, falar como falam os socratistas, de uma versão falsa da história e uma verdadeira, a sua, aquela em que os interessados na questão aparecem como inócuos e inocentes e que os iliba. Teixeira dos Santos escuda-se nas datas das sucessivas descidas do rating da República e dos Bancos nos dias que se seguiram ao chumbo do PEC IV, mas o problema de fundo estava lá, precisamente num tempo em que a volatilidade dos ratings era indiferente a quaisquer medidas, senão à exposição brutal do caso português às suas próprias debilidades, pelo que a situação progressiva e imparável, e não abrupta, dos ratings que acelerou a subida exponencial dos juros e tornou insustentável as condições de financiamento do País não poderia ser evitada. Terá sido um PEC, mais um, e logo o IV a fazer a diferença para que não houvesse dinheiro para pagar salários e pensões?! A verdade é que o mal já estava feito. As lógicas eleitoralistas de 2009 já haviam feito o seu percurso: subida dos salários nas Função Pública, baixa do IVA, complemento solidário para idosos com dinheiro que não havia. O despesismo socialista transformou-se em PEC I, II, III e, algum dia teria de ser, num chumbo do PEC IV que também poderia ser o chumbo do PEC V ou do PEC VI. Já não era possível um normal financiamento da dívida pública e as agências não poderiam apostar em paliativos ainda para mais mal executados ou insuficientes como os outros PEC. O pedido de ajuda externa poderia ter tardado, mas jamais poderia ter sido evitado. Condicionados pelo momento de incerteza Europeu e pela retracção simultânea dos Países do Euro, sim, dois anos de austeridade e uma severa recessão, 17,6 % de desemprego, 127% de dívida pública e 10% de défice no primeiro trimestre deste ano podem parecer o Inferno, mas há que olhar para quanto buraco tem sido tapado, quanta desorçamentação socialista orçamentada, quantos berbicachos e problemas do passado sobraram para quem veio a seguir. Nisto, em mostrar o que tem feito de bom e sólido, o Governo tem sido péssimo, discreto, numa timidez que é um insulto a quem quer acreditar que em 2014 sairemos desta situação de penosa intervenção externa. Temos de acreditar que tem havido uma intervenção robusta, exigente e séria nos pressupostos da economia, que a corrija estruturalmente e lance bases mais firmes para a vida colectiva. Pode fazer-se melhor? Pode. Mas é preciso que as tácticas partidárias e as sondagens dêem lugar à cooperação no arco da governabilidade. Mesmo o PS já começou a cooperar nesse sentido, com a apresentação por António José Seguro de dez propostas na Assembleia da República para ajudar as pequenas e médias empresas em termos de financiamento. Oito foram aprovadas, o que se deve aplaudir. É preciso que se deixem de merdas e cooperem mais. Primeiro Portugal, depois, muito depois, os interesses eleitorais. Tudo ao contrário do que Teixeira dos Santos e o Mega-PlayBoy fizeram. Nos fizeram.
Comments
-> A austeridade pode provocar recessão... todavia, no entanto, com medidas de austeridade correctas… podemos estar a AFASTARMO-NOS DA BANCARROTA.
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-> Música para contribuinte-parvo: «AGORA É QUE VAI SER, AGORA É QUE VAI SER».
---> A conversa dos 'Políticos Carta Branca' (e de certos lobbys) é a mesma... à décadas: «agora é que vai ser, agora é que vai ser... com mais este novo endividamento é que vamos por o país a crescer de forma sustentável»... e... o país, eng.-socratianamente, a caminhar em direcção à bancarrota…
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--->>> O contribuinte não pode andar constantemente a correr atrás do prejuízo: BPN, PPP's, etc, etc, etc.
!!!...DEMOCRACIA SEMI-DIRECTA...!!!
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Dito de outra forma:
-> Não seja cúmplice dos 'Políticos Carta Branca': os políticos que querem carta branca para continuar a estoirar milhões e milhões em endividamento...
-> Apoia os 'Políticos Disponíveis para serem Fiscalizados' (pelo contribuinte): "O Direito ao Veto de quem paga".
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---> Por um sistema menos permeável a lobbys, os 'Políticos Disponíveis para serem Fiscalizados' (pelo contribuinte) farão uma gestão transparente para/perante cidadãos atentos... leia-se, são necessários melhores mecanismos de controlo... um exemplo: "O Direito ao Veto de quem paga" (vulgo contribuinte): ver blog 'fim-da-cidadania-infantil'.