MORRER, REVOLTA À PORTUGUESA
Perdemos o sentido da revolta contra terceiros há muito, no rectângulo. Nada mais português que preservar a paz do sofá, uma paz podre, pobre, comprimida, envergonhada, humilhada e humilhante, mas paz. A única forma criativa de nos revoltarmos que vamos inventando nestes dias é morrer. De aviltamento, de desespero, de raiva, de susto, de ódio, de aflição, de impotência, de extorsão fiscal, bancária, sob o peso da crassa injustiça deste Regime e das suas consequências na nossa carne e nossos ossos, Regime onde os soares e os sócrates prosperaram, todo ele feito para que só eles prosperem e ainda lhes fiquemos a dever dinheiro e a aturar-lhes o catarro diletante. A nossa única revolta é morrer. Contra a vileza, o mau tempo, a coima, a multa, a autuação, mas morrer. Não vejo a hora de ir desta para melhor, passe a ironia.
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