A CAMINHO DA ARGENTINIZAÇÃO
Nada mais perigoso para os melhores desenlaces de este Regime em Apoplexia que a fatal distracção generalizada sobre o que se está a passar de gravíssimo no País aos mais diversos níveis, político, económico, social, institucicional. Dir-se-ia que as carnes pútridas da República Lusa se estão despegando, o fedor vai alastrando sendo que o último a saber é o respectivo cadáver e quem o carrega: contribuintes, cidadãos de parcos recursos, não aboletados como a classe política e um cortejo de cevados de um Regime cujo complemento de chacota é ser chamado de 'Democrático'. Se o fosse, as vozes e o clamor das pessoas contariam. Assim, o Regime pode ser visto apenas como um bom negócio que só correu bem para Mário Soares, família, e os seus descendentes políticos. Ainda não se rasgou inteiramente o verniz entre a PR e o PM, coisa iminente, nem explodiram convulsões sociais em face da degradação dos dias e do que a cada passo continuamente nos é revelado das ligações pegajosas entre a Banca e Política, entre a Banca e os Partidos, entre a Banca e os factos económicos-base que ditam a estagnação devido à cleptocracia prolongada, ao benefício próprio de um feixe de discretos oportunistas, aos atrasos estruturais apresentando como desculpa os professores e o ensino e dando de barato o povo como bode expiatório idiossincrático e cultural da crassa divergência com a Europa em oito anos. Rouba-se e trafica-se ao mais alto nível em Portugal com total impunidade, veja-se o BPN e o seu buraco imponderável integrados da galáxia CGD para que nós afinal o paguemos e nada nos permita acreditar na investigação. Ora, não explodiram convulsões sociais entre nós porque nisto das convulsões sociais em Portugal não basta haver boas nem sobejas razões. É sobretudo preciso primeiro que os bolsos estejam vazios até para cigarros e bilhar ou então que sejam os professores a locomover uma réstia de coragem contra a lógica falsificatória que visa rasurar da Opinião Pública os factos profundos do nosso descalabro e argentinização iminentes, quanto mais não seja pelo contínuo mascarar imbecil dos dados económicos. Perante tanta literatura de alienação, tanta cobertura dada pela imprensa e pela bloga aos factos líquidos e falhas estratégicas ou a inacção como estilo e figura de estilo governamental, fuga perfeita dos tempos que correm, tal como eles se nos afiguram ser vividos, urge mergulhar nos factos e embebermo-nos precisamente do tempo a fim de o transformar e influenciar, nem que seja pela atenção a ele e a sua descrição:
«Ontem foi um dia de terramoto com o longo e esclarecedor depoimento de Cadilhe no parlamento, reabilitando as sonolentas e situacionistas comissões de inquérito. Ouvi muito em directo e reparo como as notícias dos telejornais e dos jornais não conseguem transmitir o essencial do tom da comunicação desse ex-ministro das finanças. Porque a linguagem de sereno tsunami que transmitiu não nos pode deixar indiferentes. Depois, foi Manuela Ferreira Leite que, por acaso, não foi questionada sobre a matéria, preferindo-se os nomes de Santana Lopes e de Menezes para as inevitáveis tricas. A líder do PSD usou e abusou da palavra credibilização para qualificar a respectiva conduta, procurando mostrar-se como a formiguinha da fábula, contra as cigarradas do que qualificou como fantasias de Sócrates, o mentiroso, o mistificador, o que está a conduzir o país para a tragédia, porque não tem medidas de emergência social, de apoio às PMEs e de luta contra o endividamento, preferindo manter a ilusão de poder controlar as ajudas estatais e de dominar pela propaganda. É evidente que Manuela Ferreira Leite, para quem a ouviu, não conseguiu inverter o sentido das sondagens. Mas o estilo pode ter mais êxito se o sentido dramático se agravar e o governo e o PS começarem a perder a credibilidade. De qualquer maneira, o ataque frontal de dois antigos ministros das finanças, depois da barragem de fogo contra a fantochada, levada a cabo por outro do mesmo calibre, Medina Carreira, e com um quarto ex-ministro das finanças no palácio belenense, colocam Teixeira dos Santos em apuros e Sócrates com muitos fogos críticos para debelar. Por outras palavras, as campanhas eleitorais que se avizinham vão viver sob um ambiente psíquico absolutamente inédito e os habituais contabilistas e planeadores têm de se adaptar às mudanças efectivas. Já não é o tempo dos cenários e dos criadores de factos políticos, com funerais de Amália Rodrigues e referendos em Timor. Por outras palavras, as realidades da pouca vergonha já ultrapassam aquilo que outrora pertencia ao domínio da boataria e da teoria da conspiração, enquanto as forças vivas começam a libertar-se dos velhos espartilhos do controlo das ajudas estaduais, dado que o processo de desinstitucionalização em curso fragmentou os restos de autonomia dos grandes corpos do Estado e das poucas autonomias da dita sociedade civil. Já nem o populismo consegue manipular esta pulverização do salve-se quem puder. Por outras palavras, parece impossível qualquer maioria absoluta tanto para o PS como para o PSD e nem já a hipótese de um novo Bloco Central, mesmo à alemã, conseguirá domar a besta da incerteza. Resta saber se uma intervenção presidencial para um governo de salvação pública, com os principais partidos em proporcionalidade ainda tem espaço de manobra. Porque, de outra maneira, estamos mais próximos da argentinização do que parece. Espero que me engane nestes vaticínios e até pode acontecer que tudo como dantes, com a velha sede na palha de Abrantes...»
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José Adelino Maltez in Sobre o Tempo que Passa
Comments
Lê:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1356475&idCanal=62
Vai ser mais difícil controlar a justiça inglesa, logo tem que criar uma lei para ser inimputável, com efeitos rectroactivos a desde que nasceu e com validade vitalícia.