TRINCHAR GAZA, A GUERRA MEDIÁTICA


1. São fáceis, habituais e parciais quase todas as acusações da Cruz Vermelha a Israel, talvez porque se antecipa e sabe bem com o que se pode contar dali, civilização, mas nunca se sabe nem se antecipa com o que se pode contar do Hamas, bando de assassinos, que alías massacrou, fuzilando-os a frio, membros da Fatah recentemente, já se sabe, por serem inadmissíveis membros da Fatah: se hoje a CV acusa Israel de não estar a ajudar os feridos de Gaza, deve questionar-se o que faz o Hamas para pôr a salvo os civis sob a sua alçada, pergunta cuja resposta já conhecemos: a população civil é um mero utensílio de gerrilha nas mãos consabidamente sanguinárias do Hamas. Rasgando o seu dever de isenção e parcialidade, funcionários do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) que estão na região cumprem o papel simplista e faccioso de ao detectarem, nas últimas horas, uma situação particularmente “chocante”: pelo menos quatro crianças pequenas foram deixadas sem auxílio junto aos cadáveres das suas mães, na cidade de Zeitun, indica a BBC. Por ter mais que fazer, o Tzahal ainda não respondeu a esta acusação específica, mas indicou que tem estado a trabalhar em estreita colaboração com grupos de auxílio, de modo a que os civis possam receber assistência. É uma pena que, para sobreviverem ao Hamas, as Instituições internacionais de auxílio humanitário tenham de cumprir a sua parte de parcialidade e manipulação dos factos, mediatizando os dados que mais convém aos terroristas mais sanguinários.
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2. Por outro lado, a lógica de estrangulamento e de cerco absoluto parece nortear a acção militar no terreno segundo se infere do facto de a Agência da ONU para a Ajuda aos Refugiados Palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês) anunciar hoje a suspensão das suas actividades humanitárias na Faixa de Gaza, depois de um ataque israelita a uma coluna de veículos da agência, anunciou hoje um porta-voz da UNRWA.“ A UNRWA suspendeu as suas operações em Gaza”, afirmou Chris Gunness, o porta-voz da agência, que distribui alimentos a cerca de 750 mil pessoas naquele território.“ Manteremos essa suspensão enquanto as autoridades israelitas não garantirem a segurança das nossas equipas”, acrescentou Gunness. Este tipo de acção israelita visa estrangular a capacidade de resistência dos insurgentes do Hamas pela escassez de bens fundamentais e assim provavelmente encurtar as operações.
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3. Não se compreende como é que não enveredam por outras vias todos quantos procuram insistir na remilitarização do problema que opõe Israel à Palestina. Procurando desesperadamente abrir talvez uma nova frente que disperse os recursos do Tzahal concentradíssimos e impiedosos na Faixa de Gaza, pelo menos três “rockets” disparados a partir do Líbano atingiram esta madrugada o Norte de Israel e fizeram vários feridos, segundo fontes militares israelitas. Os disparos atingiram a cidade israelita de Nahariya, oito quilómetros a Sul da fronteira com o Líbano, e outras três localidades. Um “rocket” caiu num edifício em Nahariya que os media israelita dizem ser um lar para idosos. O local foi, entretanto, evacuado. O preparo tecnológico e o requinte táctico do exército israelita estão bem além da fragilidade improvisionista das facções mais extremistas. Como o ódio não se estanca, só a morte incansável e abundante para decepar a Medusa interminável de esse ódio.
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4. É frequente compararem a estratégia israelita de guerra e de acção política geral na Palestina como aplicação avançada e sofisticada dos processos que possibilitaram, durante a Segunda Grande Guerra, a mortandade e o caos dentro do Gheto de Varsóvia. É possível que sim, pelo menos lembra-o o facto de a aviação israelita lançar panfletos sobre Rafah, no sul da Faixa de Gaza, aconselhando a população a abandonar os bairros mais próximos da fronteira com o Egipto por estarem iminentes bombardeamentos contra os túneis usados para o contrabando de bens e o tráfico de armas. Parece uma medida humana e, no entanto, presumindo que os bombardeamentos serão seguidos de ocupação e as populações não têm para onde ir e podem ficar reféns da necessidade de vítimas que caracteriza o argumentário do Hamas, o efeito é duplo: impedem-se baixas e obtém-se espaço. Os panfletos dirigem-se aos habitantes dos bairros ao longo da fronteira e insta-os a abandonarem a “abandonarem as suas casas”. “Uma vez que o Hamas usa as vossas casas para esconder e traficar armas, as Forças de Defesa Israelita vão atacar a área, entre a fronteira egípcia e a estrada marginal”, lê-se nos milhares de panfletos, largados ao final da tarde por aviões israelitas. Trinchar Gaza e ganhar espaço vital. Tudo parece correr às mil maravilhas aos propósitos sanitários de Israel.
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5. Um exército em laboração contínua e continuada e bem eficaz, por sinal, dá-se à humanidade de uma pausa de três horas, depois da qual podem os combates entre o Exército israelita e as milícias do Hamas ser retomados. Israel comprometeu-se a respeitar diariamente uma trégua de três horas para permitir a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. As hostilidades estiveram suspensas entre as 13h00 e as 16h00 locais (11h00 e as 14h00, em Lisboa), permitindo à população sair de casa para procurar alimentos e visitar familiares, enquanto as organizações humanitárias aproveitaram para fazer entrar no território mais camiões com ajuda de emergência. Esta mó de matar, este desumano devastar e a ridicularia de uma pausa na morte. Mais parece a lógica medieval de honra cerimonialista na guerra sazonal, que implicava até o convívio à mesa com o inimigo entre uma refrega e outra.
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6. Ganhar tempo e obter margem negocial com avanços e argumentos de peso no terreno determinam que o Governo israelita garanta que estão ainda a decorrer as negociações sobre a proposta egípcia para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, já depois de o Presidente francês, Nicolas Sarkozy, ter anunciado que tanto Israel como a Autoridade Palestiniana tinham aceitado o plano, de que é co-autor. “Congratulamo-nos com a iniciativa franco-egípcia e queremos que ela seja bem-sucedida, mas continuamos a negociar as bases desta iniciativa”, explicou Mark Regev, porta-voz do Governo hebraico. O desejo de se transformar num super-pacificador e num mega-intermediário negocial que averbe um prestígio sólido para si e uma existência menos fugidia à França islamizada explicam em grande parte a incansabilidade de Sarkozy. Lamentavelmente, a história mostra que a França apaga-se, o protagonismo e o voluntarismo sarkozyanos não serão suficientes para construir resultados que outros pacificadores já mortos e bem melhores que o presidente francês não viveram para ver consolidados. De resto, se eu fosse francês preocupar-me-ia que o meu presidente andasse por aí a malbaratar charme e a dar pérolas a porcos quando há tanto para fazer por casa, uma economia que treme, multidões de desempregados que alastram e, tantas vezes, nem recebem meses de trabalho. Lá como cá.

Comments

Anonymous said…
A serio...Nunca pensei ouvir isto... e eu também tenho nome hebraico...Agora o problema é se Israel comporta - se melhor ou pior do que o Hamas...comparar- se a si próprios com uma organização que eles mesmos chamam terroristas diz muito do que vale um estado capaz de coisas destas...Um estado, atenção NÃO é uma organização terrorista, é um estado que se faz chamar "civilizado"...gostaria de comparar as mortes de um lado e do outro... de cíveis, não de soldados e de milícias... e depois pensar outra vez ou que é "civilizado"...se os árabes matam 5 miúdos são bárbaros porque o fazem rezando e com rockets. se os ocidentais matam 500 com aviões bombas, é permitido, claro... que mais!!!
Anonymous said…
"...esta mó de matar-medieval-a ridícula pausa na morte " São por si só um tratado de horror e hipocrisia! Barbárie por etapas!
Lura do Grilo said…
Conheço dois ou três israelitas e outros que lá estiveram. O ódio é sempre vomitado de Gaza para Israel, as crianças são ensinadas a odiar e morrem porque o Hammas as põe na frente de batalha. Há um mundo hipócrita que não fala das crianças que morreram no kosovo, das que foram apedrejadas com 14 anos depois de violadas pela soldadesca islâmica, das crianças regadas com ácido ou mortas por ir à escola, dos adolescentes enforcados por homossexualismo no Irão (como animais pendurados numa grua) a serem desfloradas aquando do primeiro período, a viverem em currais uma vida inteira como escravas. Israel, melhor ou pior, representam a Humanidade naquela região e a Humanidade por vezes tem que ser musculada. Há inocentes que morrem mas morrem porque antes mataram o que de humanidade tinham: e essa morte não foi causada por Israel.
Quantas crianças morreram hoje na Coreia do Norte pela fome? Quantas adolescentes morreram hoje em Caracas em violência de rua? 10, 20, 30?
Continue a escrever ... eu vou ler!
A propósito da educação das crianças "árabes": há uns anos fui a Marrocos e foi com incredulidade que verifiquei ser normal as ditas cujas fazerem de conta que têm fisgas entre as mãos, simulando o lançamento de pedras a qualquer turista ocidental que por lá deambule. Elucidativo...

Quanto a Sarkozy, não vale a pena perder-se muito tempo com um país que tendo deixado de ser uma grande potência em 1815, ainda pensa que o é. Aliás, a política externa do "hexagone" já causou sérios dissabores à Europa, para apenas falarmos do século XX. Assim, temos
1. aA forçada queda da monarquia alemã em 1918 e o escandaloso Tratado de Versalhes que tirou o país vencido para os braços da anarquia e de um posterior caudilhismo demencial.
A isto acrescentaremos os desastrosos acicates aos nacionalismos balcânicos e da Europa central que durante os anos XX fizeram resvalar toda a região para a instabilidade política que conduziu ao totalitarismo


2. A guerra da Indochina

3. A contemporização com todos os inimigos do Ocidente, mesmo durante a Guerra Fria, quando a França se recusava a participar na estrutura militar da NATO.

4. A inacreditável e submissa cobardia à pressão interna magrebina que condiciona o respeito pela Lei que deve ser geral.

5. A PAC que não passa de uma fachada para uma política de extorsão destinada a financiar a agricultura francesa dentro da UE.

6. Quanto a Portugal, os nossos interesses colidem com os de Paris em Cabo-Verde, Guiné e Angola, por vezes de forma bastante crispada, apenas atenuada pelo sentido da mera conveniência diplomática.

Em suma, continuo fiel à aliança britânica. A França nunca foi, não é, nem será uma aliada.

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