OBAMA, UM PACIFISMO PRÓ-ACTIVO
1. Uma forma inovadora e menos ostensivamente hostilizante dos inimigos que os EUA coleccionaram ao longo do século XX parece-me diplomaticamente do mais promissor que podemos imaginar numa nova política internacional norte-americana e é nessa medida que leio o anúncio do Presidente eleito dos EUA, Barack Obama, de passar a adoptar uma nova abordagem face ao Irão, enfatizando o respeito pelo povo iraniano e explicitando o que os EUA querem dos líderes desse país: “O Irão vai ser um dos nossos maiores desafios”, disse Obama numa entrevista ao programa "This Week" com George Stephanopoulos, da cadeia nacional de TV ABC. A lógica dos inimigos irredutíveis contaminou o ambiente político entre os dois países por tempo de mais e se Obama deve permanecer preocupado com o apoio da República Islâmica ao movimento xiita libanês Hezbollah ou sobre o enriquecimento de urânio no Irão que pode desencadear uma corrida ao armamento no Médio Oriente, é preciso então que se lancem plataformas directas de segundo plano no sentido de um entendimento continuado em bases mínimas. Era isto o que se esperava de Obama, deixando para trás a tonalidade irredutível em Bush e em McCain, adeptos em quase todos os casos de posições de força e de cerco sancionatório económico, nisto incluindo as relações com estados párias, governados por loucos populistas que snifam petróleo, ou semi-párias como respectivamente a Coreia do Norte, Venezuela e Cuba. É na mediação dos próprios conflitos e num envolvimento muito mais vasto com o Irão que uma abordagem moderna e revolucionária poderá ser implementada, na senda de outros agentes de tais procedimentos não-violentos, recordem-se as lutas civis lideradas por L.-King, usados hoje em comunidades problemáticas e claramente transferíveis para as relações internacionais: “Vamos ter de adoptar uma nova abordagem. E formei a convicção de que o envolvimento é o ponto de partida certo”, disse Obama. É importante assinalar o facto de que esta pró-actividade poderá e deverá ser exemplar no planorama internacional que, com Bush, se degradou enormemente, ao visar-se justamente antecipar futuros problemas, necessidades ou mudanças. Muitas das medidas reactivas e impulsivas de Bush no pós-onze de Setembro representam tudo o que não interessa implementar num mundo onde a informação e a decorrente antecipação de problemas são determinantes. Não ter a mínima ideia de uma coisa que tem efeito sobre outra que vem depois é comprovadamente desastroso. Fecundo é ser pró-activo e fazer da negociação permantente e incansável a base de tudo. Provavelmente, não se poderá negociar de boa fé com o imperialismo iraniano tal como foi um logro ter esboçado negociação com Hitler antes da invasão da Polónia, mas a tese da guerra preventiva não representa melhor saída à negociação com princípio incontornável.
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2. Superar a mancha Guantánamo na política externa anti-terrorista norte-americana não será fácil pois faz pressupor enormes guerras internas e conflitos de interesses devido a posições ideológicas diametralmente opostas. Daí que o Presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, que assume as rédeas da Casa Branca dia 20 de Janeiro, reconheça que o mais provável é que não consiga encerrar o campo de prisioneiros de Guantánamo nos primeiros cem dias da sua presidência, garantindo, em entrevista à cadeia de televisão norte-americana ABC, que essa bandeira da sua campanha não está esquecida e que a controversa prisão é mesmo para acabar. “É mais difícil do que a maioria das pessoas possa pensar. Creio que vai demorar um certo tempo e as nossas equipas de juristas estão a trabalhar com os responsáveis da segurança nacional, neste preciso momento, para saber exactamente o que temos de fazer”. Isto é sintomático o alto índice de negociação interna de que se entretece a política norte-americana, longe dos unanimismos artificiais que empobrecem e afunilam a vida de uma nação e que dos anúncos sonantes em campanha [o ex-senador do Illinois comprometeu-se, durante a corrida à presidência dos Estados Unidos, a encerrar Guantánamo durante os primeiros cem dias do seu mandato] à prática vai um grande eito até por consideração do poder detido pelos lóbis estabelecidos militar e armamentista, mas Obama sublinha que não quer que haja “ambiguidade sobre esta pergunta” pois pretende cumprir o que anunciou, só que “da maneira certa” e mantendo o respeito pela constituição do país. É fácil a constatação de que as forças subterrâneas na democracia norte-americana padronizam e geminam no essencial qualquer presidente eleito, do mais pacifista ao mais belicoso. O Presidente não se faz. É feito. Se ousa fazer-se e exercer de todo um poder não consentido, correrá os mesmos riscos e sofrerá todas as consequências experimentados pelo clã Kennedy.
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