DA IRRESPIRABILIDADE NACIONAL
1. A vários títulos, o ambiente em Portugal está cada vez mais irrespirável. Por exemplo, o último Benfica-Sporting de Braga evidencia que os Apitos Coloridos serão por cá eternos e alternantes, ninguém sai ileso, e se Quique não vai nem estava a ir à Montanha, por que motivo não haveria a Montanha vir a Quique?! Os corredores do Poder são insondáveis. Nada mais polémico e fuga em frente no futebol que a reacção nervosa do director de comunicação do Benfica, João Gabriel, reagindo não sem algum histerismo e ansiedade à "insinuação" de Mesquita Machado acerca da nomeação do árbitro Paulo Baptista para o tal polémico jogo já referido Benfica-Sporting de Braga (1-0). Diz Gabriel que merece a "intervenção da Procuradoria-Geral da República". É uma afirmação forte, se não fosse dar-se o caso de que neste ano de eleições tudo se torna atípico. A Imprensa cega e torna-se um passador atípico. A política centra-se no seu fulcro essencial, a Agenda eleitoral passando a ignorar ainda mais e melhor as necessidades prementes das pessoas e no plano da Justiça, se tudo é francamente mau no transcorrer de uma legislatura atípica, repleta de atropelos de toda a ordem sob o sono de bebé da opinião pública, ainda é pior em ano eleitoral. De modo que falar na PGR é, de algum modo, convocar uma fantasmagoria. Em ano de eleições. Aquele golo em clamoroso fora-de-jogo mereceu do presidente da Câmara Municipal de Braga e da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) uma associação de ideias: disse segunda-feira ter ouvido "nos corredores" que Paulo Baptista não seria a primeira escolha para arbitrar o jogo, tendo sido nomeado devido a "influências exteriores". Por isso, pudicamente, explode de virgindade João Gabriel: "Estranha-se a insinuação ontem lançada por Mesquita Machado, essa sim merecedora de intervenção da Procuradoria-Geral da República porque, das duas uma, ou tem acesso a informação que não devia ter, ou, pior, alguém já contava - por antecipação - com um determinado arbitro para o jogo Benfica-Braga". Definitivamente, as maiorias absolutas são um perigo. Não olham a meios e então em matéria de virar o bico ao prego são do melhor.
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2. Que Cavaco só acordou para a cilada quando se viu ele mesmo insultado, atropelado, reduzido à insignificância, enlameado por insinuações relativas ao BPN, enlameado mesmo pela forma como Dias Loureiro, esse insígne milionário da política, se lhe colou, isso é nítido. Para os manobradores mafiosos e sem escrúpulos que por enquanto nos pastoreiam pareceria que o PR ficaria sitiado, confinado a um silêncio conveniente para deixar passar as tropelias que já se detectam e verificam subreptícias, nos Media, nas opiniões. Antes disso, o clamor dos professores não estava a ser escutado pelo PR. Nenhuma instituição da República estava a ser sensível e atenta a um clamor fundamentado, justíssimo, urgente. Cento e cinquenta mil seres humanos pelas ruas em indignação grossa não foram levados em linha por uma PR ainda crédula e ingénua com a gente falsária sem escrúpulos com a qual cooperava estrategicamente do ut des. Foi perante a ruptura que representou a desautorização presidencial nos pontos polémicos do novo EPA dos Açores que seis movimentos de professores convocam agora uma manifestação para o dia 24 de Janeiro, em frente ao Palácio de Belém, em Lisboa, para sensibilizar Cavaco Silva para o "clima de perturbação" que o modelo de avaliação de desempenho "está a provocar nas escolas". "Estamos convictos de que o Presidente da República terá uma palavra a dizer. Temos a expectativa de que possa ajudar a resolver este conflito, já que o Governo tem-se mostrado intransigente nas questões fundamentais", afirmou hoje Octávio Gonçalves, do Movimento Promova. De acordo com o coordenador deste movimento, os docentes pretendem ainda alertar o Chefe de Estado para os aspectos "mais gravosos" do modelo de avaliação do Ministério da Educação e apresentar a Cavaco Silva as suas "justas" reivindicações, durante uma audiência que irão solicitar para o mesmo dia. Mais do que isso, há a denunciar processos de actuação inéditos num estado de direito, e tão graves e chocantes que mereceriam um contágio de indignação nacional. Pelos frutos os conhecereis. Este governo e o seu ME já mostraram que são o refugo do refugo em qualidade humanística e respeito pela lei e pela constituição. Daí que não seja de estranhar que circulem pela net sóbrios e sérios resumos da actuação de um governo onde a mentira nunca é a excepção, um deles reza isto: «Quando este governo tomou posse, deram-lhe um estado de graça, que eleaproveitou para: - Aumentar o IVA, mesmo depois de ter prometido que não aumentaria impostos;- Aumentar a idade da reforma, apesar de ter prometido que o não faria;- Congelar as carreiras de alguns sectores da Função Pública. O povo continuou adormecido. Depois, provou-se que o Primeiro-Ministro falsificou documentos daAssembleia da República para que o tratassem por Engenheiro, que tirouum curso de Engenharia sem ir às aulas, enviando trabalhos por fax, eque, enquanto recebia um subsídio de exclusividade, assinavaprojectos. O povo mostrou-se indiferente, achando que, se ele queria que otratassem por Engenheiro, era lá com ele. De seguida, decidiu fechar escolas e urgências; a população começou adespertar e o ministro da saúde foi demitido, mas a políticacontinuou. Posteriormente, vieram as aulas de substituição gratuitas e aresponsabilização dos professores pelo insucesso dos alunos. Os professores acordaram e os tribunais deram-lhes razão nailegalidade das aulas de substituição não remuneradas. Depois veio o Estatuto da Carreira Docente, que dividia os professoresem duas categorias, sem qualquer análise de mérito, e impedia que doisterços dos professores atingissem o topo da carreira. Os professores ficaram atordoados e a Ministra aproveitou para esticara corda ainda mais, tratando os docentes por "professorzecos" ecriando um modelo de avaliação que ela própria considerou"burocrático, injusto e inexequível" e que prejudica os professoresque faltassem por nojo, licença de paternidade, greve ou doença. Aí os professores indignaram-se e vieram para a rua. O Governo e ossindicatos admiraram-se com a revolta dos professores e apressaram-sea firmar um entendimento que adiava a avaliação. No ano lectivo seguinte, os professores foram torturados com osuplício de pôr a andar um monstro, cavando a sua própria sepultura.Em todas as escolas, começou a verificar-se que esse monstro não tinhapernas para andar. Os professores começaram a pedir a suspensão doprocesso e marcaram uma manifestação para o dia 15 de Novembro. Ossindicatos viram o descontentamento geral e marcaram outramanifestação para o dia 8 de Novembro. Os professores mobilizaram-se e a Ministra tremeu… Os alunosaprenderam com os professores o direito à indignação e aperceberam-sede que o seu estatuto também era injusto, porque penalizava as faltaspor doença, e começaram a manifestar-se. A Ministra percebeu que tinhade aliar-se aos alunos e cedeu nas faltas, culpando os professorespela interpretação da lei. Conseguiu mesmo alterar sozinha uma leiaprovada pela Assembleia da República perante os mudos parlamentares. O ambiente na Escola tornou-se tão insustentável que a Ministra deixoude ter coragem de visitar escolas. Então, decidiu alterar novamente oseu modelo, sem o acordo de ninguém, pois só ela não entende que estáa mais no Governo, defendendo um modelo que sabe que é errado, só paranão dar o braço a torcer (lembrando a teimosia de Paulo Bento que,para afirmar o seu poder, prefere perder). Se fizesse umaauto-avaliação, percebia que está tão isolada que até o representantedas associações de pais, aliado de outras batalhas, tomou consciênciado que estava em causa. Agora, o Secretário de Estado Adjunto vem dizer que a Lei é paracumprir. Mas qual Lei? A da Ministra que não respeita os tribunais,que altera as leis da Assembleia da República a seu belo prazer, quemanda repetir exames, mesmo sabendo que é inconstitucional, quepenaliza os professores pelo direito à greve e às faltas por nojo, pordoença ou por licença de paternidade? Quem deixou de cumprir a Lei foi a Ministra e o Governo. Lembram-se dealguém que fumou ilegalmente num avião, afirmando que desconhecia umaLei imposta por si? É o mesmo que vem dizer que nem ele está acima daLei. Já que a Comunicação Social está instrumentalizada e não há oposiçãofirme, o povo devia seguir a lição dos professores e manifestar-se: - Contra o elevado preço dos combustíveis, uma vez que o preço dopetróleo desceu para um terço do que custava há meses e em Portugal oscombustíveis ainda só desceram cerca de 20%; - Contra os elevados salários de gestores de empresas públicas que dão prejuízo; - Contra a entrega de computadores "Magalhães" que depois têm de serdevolvidos, como quem tira doces a crianças; - Contra o financiamento público de bancos que exploram os clientescom elevados juros; - Contra as listas de espera na saúde; - Contra as portagens nas SCUT; - Contra a criminalidade e a insegurança que se vive em Portugal; - Contra as elevadas taxas de desemprego; - Contra o desvio do dinheiro de impostos para o TGV; - Contra as mentiras. Se os Portugueses acordarem e seguirem o exemplo dos professores, os governantes deixarão de se "governar" e passarão a defender ointeresse das pessoas. NOTA: Apenas faço um alerta. O exemplo da Grécia é de seguir mas com boa pontaria aos verdadeiros objectivos. Os inocentes que têm montras para a rua e os carros estacionados junto ao passeio não são os culpados do mal estar geral. É preciso apontar aos verdadeiros causadores desta bagunça, os tachistas do Governo da AR e os seus amigos e apaniguados. Vamos a eles».
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3. Quem esteja um pouco treinado na avaliação da cotação de ideias e projectos pela convicção com que alguém as defende, poderá ter observado o suor frio, a fraqueza cinética e o facies frágil do Ministro Mário Lino ontem a falar sobre a magnífica correlação custo/benefício do TGV e a garantir que a coisa segue sempre em frente. Tal fragilidade corpórea em Lino parece agora em condições de ficar um pouco mais bem explicada. Provando que em Portugal a governação anda a brincar com o fogo, a descurar as populações, a esmifrar de impostos quem menos tem e menos pode, a negligenciar os desempregados, cujas subvenções são pagas sistematica e injustificadamente truncadas, coisa desonesta e indigna num Estado Sério que não é Portugal, a negligenciar a desempregabilidade que corroerá em pouco tempo a nossa sociedade, a agência internacional de notação financeira Standar & Poor’s anunciou hoje que colocou o "rating" atribuído à República portuguesa em situação de alerta “com pendor negativo”. Por que será? Significa isto que, durante as próximas semanas, será feita uma análise mais cuidada do "rating" português (actualmente em AA-) sendo que existe a possibilidade de uma descida da classificação atribuída a Portugal. Ontem, a Standar & Poor’s tinha feito o mesmo anúncio para Espanha. Uma das consequências de uma descida do "rating" (risco de crédito) é o aumento dos custos de financiamento do Estado português. Durante os dias de ontem e hoje, o "spread" das Obrigações de Tesouro portuguesas a 10 anos face ao Bund alemão estiveram em forte alta. Por isso mesmo, com os empréstimos do Estado Português, cuja taxa de juro já é das mais altas, um pouco menos que a Grega, por exemplo, correndo o risco de ser ainda mais, das duas uma: ou se admite que o tempo não é para loucuras TGV e que não faz sentido penalizar fortissimamente as pessoas nos impostos para algo tão caro, tão inútil e sumptuário, pelo menos neste momento, ou então o governo está mesmo disposto a rebentar com toda uma sociedade levantada contra esta via de endividamento que descura e destrata prioridades de natureza social concreta e imediata e deseja romper a corda precisamente por aí, demitindo-se, fazendo-se demitir pelo PR ou fazendo-se demitir sem apelo nem agravo por uma população ordeira, pacífica, mas firme, caso as ruas e avenidas ousem fazer-se ouvir, o que, à boca pequena, sondando aqui e ali uma rua indignada, não está assim tão remoto de acontecer. Parece-me que vale bem a pena operar a uma fortíssima vigilância da política nacional. Todos os dias percebemos as veleidades de um Império da Mentira e como forceja prevalecer.
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Fica a sugestao.