ISRAEL, FILHO DA EUROPA

1. Pateticamente, um Mundo normalmente incapaz e impotente e indiferente de se mobilizar contra as matanças no Darfur ou as matanças seja onde for-África aparece agora 'mobilizado', como se isso fosse possível ou valesse a ponta de um chavo em face das agendas que verdadeiramente interessam aos governos, a saber, o Gás, o Petróleo, a Água, as saúde das suas exportações?! A Rússia está calada. Os EUA estão calados. A Europa, essa enrouquece e histeriza. Ela que em primeiro lugar propiciou o Estado de Israel dentro do Império de Sua Majestade, ao criar todas as condições para a implantação e expansão dos primeiros kibutz nas oras da Palestina. Esta é mais uma cena de uma história redigida pelos poderosos europeus, senhores imperialistas do mundo inteiro, hoje decadentes e divididos na União Europeia, estrutura que fala somente a voz grossa da Alemanha e de mais duas pequenas potências anãs, como a França e a Grã-Bretanha. Na verdade, o mundo não acordou hoje com a notícia de que a ofensiva terrestre israelita entrou na cidade de Gaza. Ao mundo não lhe interesa o subir de tom num confronto que já matou mais de 450 pessoas em pouco mais de uma semana. A comunidade não se mobiliza. Aparenta mobilizar-se. As palavras do Papa Bento XVI são só palavras como sempre, como as palavras do Presidente da República não passam de palavras. O primeiro-ministro britânico Gordon Brown também tem palavras. Os manifestantes na Austrália têm cartazes e palavras. Mesmo quando Gordon Brown apela numa entrevista à estação de televisão BBC1 a um cessar-fogo imediato para travar um “momento muito perigoso” isso significa zero, nada, tarde de mais. Israel teve sobejos pretextos para ser devastador e impiedoso com os antros fanatizados do Hamas, para levar a lixívia da guerra ao Hamas. Quem engordou o Hamas que se esfregue: “O que devemos fazer imediatamente é trabalhar ainda mais para conseguir um cessar-fogo”. Pode ir sonhando Gordon Brown, que Mugabe ainda lá está, tão sensível foi ele às 'pressões' e 'mobilizações de merda' do Mundo preocupadíssimo em conversar sobre a pobre Faixa de Gaza entre um BigMac e um café numa boa esplanada.

lkj

2. Enquanto isso, numa demonstração do quanto é promissora, libertadora e brilhante a violência exercida contra o próprio povo nessa guerra civil iraquiana em lume brando, numa disciplina mortiferamente produtiva e sistemática que não tem obrigado em nada o Mundo Ocidental das palavras de ordem contra Israel a pensar, pelo menos 35 pessoas morreram e 65 ficaram feridas hoje em mais um atentado suicida à entrada do mais importante mausoléu xiita de Bagdad, informou o porta-voz das operações de segurança da capital iraquiana, o general Qassem Atta. Só uma cultura do desprezo da vida e do mais demente que imaginar se possa torna irrelevante isto: “Uma mulher que levava uma bomba presa à cintura accionou o engenho explosivo perto de uma das entradas do mausoléu. Segundo as primeiras informações, o balanço é de 35 mortos e 65 feridos, a maioria peregrinos iranianos, entre eles mulheres e crianças”, conforme nos dá conta Atta. A explosão ocorreu cerca das 11h00 (08h00 em Lisboa) à entrada do mausoléu do 7.º imã do Islão xiita, Moussa Kadim, no bairro de Kazamiyah. Estas coisas são de tal monta chocantes que quase nos obrigamos a pensar que o Ocidente e a Europa em Particula não têm colhões para afrontar este perfil sangunário que se assim se comporta contra os próprios militantes da sua religião noutra variante, podemos imaginar o que faria com os europeus e ocidentais se lhes pudesse pôr a mão fanática.

lkj

3. Afinal, eram palavras pessoais. Sim, os telefonemas com que o ministro checo dos Negócios Estrangeiros, Karel Schwarzenberg, foi contemplado e a chantagem política exercida levou-o reconhecer hoje em Praga um “grave erro” cometido por um porta-voz da presidência checa da União Europeia (UE) que considerou ontem “defensiva” a ofensiva terrestre de Israel na Faixa de Gaza. “Foi um erro pessoal. Infelizmente foi um erro muito grave”, disse Schwarzenberg num debate difundido pela estação de televisão pública CT 1. Sim, porque a República Checa também tem vocação para pau mandado, tal como Portugal e certos anões territoriais e populacionais. Aliás, o lado Beija-Cus da Europa é eloquente. Barroso tornou-se exímio, um verdadeiro especialista em ser irrelevante e nulo, o que lhe garante aliás o lugar. Parecia realmente bom de mais que se dissesse o que realmente se pensa conforme a primeira reacção de Jiri Frantisek Potuznik, porta-voz do primeiro-ministro checo Mirek Topolanek para a presidência da UE, o qual, precipitando-se, desviou-se do politicamente correcto e qualificou a operação de Israel “mais defensiva do que ofensiva”. “Trata-se de um passar da fronteira de Gaza, não houve violência, nem vítimas. Esperamos mais informações”, disse então à AFP. Mais tarde, o Ministério checo dos Negócios Estrangeiros considerou, em nome da presidência da UE, que Israel não tinha o direito de envidar acções militares que “afectam os civis”. Se há espectáculo imperdível e raríssimo na Política Internacional é esta preciosidade de uma no cravo e outra na ferradura. Nós percebemos a força dos bastidores e a República Checa é uma principiante nesta arte de não dizer o que realmente se pensa. Neste momento, é só perita em desdizer-se.