ESTE IMERGIR NO LETARGO E NO PERIGO


1. É preciso começar a pensar bem como enfrentar os contornos de uma Crise ainda imprecisa. Que solidariedades novas? Que precauções articuladas? Isto porque, na verdade, quem pouco tem pouco poderá perder, pois a crise já começou há muito para tais. O problema é quem, tendo alguma coisa ou até muito, de repente perca ou tenha muito a perder. O perigo é todo esse e é monstruoso. Entre convulsões sociais que não levam a coisa nenhuma e uma varredela cabal nas zonas sombrias do Poder por onde os Governos desonestificam os seus procedimentos, a oportunidade é ímpar. Sintomático parece ser o que se passa em França, onde caminhos-de-ferro, as linhas aéreas e o ensino são alguns dos sectores no dia de hoje atingidos por uma greve geral decretada pelas oito principais organizações sindicais francesas, numa autêntica “mobilização antisarkozista, tanto económica como social”, conforme se lhe refere o jornal "Libération" e reproduz o jornal Público.“Os assalariados, os que pedem emprego e os reformados são as principais vítimas desta crise”, diz a convocatória da greve, que fez cancelar muitos comboios e um terço dos voos que tinham início num dos aeroportos de Paris, o de Orly. Os exemplos de má governança, de esbulho e de toda a sorte de procedimentos abusivos para com os cidadãos, de que esta legislatura e este governo têm dado tantos e tais deprimentes exemplos, deverão conduzir a uma ampla e corajosa reflexão que tenha o Regime, tal como está, apodrecido e decandente mesmo quando ostenta o nome mentiroso de democracia, no centro. Devido à rapidíssima degradação da fiabilidade e lisura dos nossos actores políticos, à vergonha internacional daí decorrente, podemos estar perante um cenário de caos iminente político e social em Portugal capaz de nos africanizar o Regime ainda mais.
kj
2. Dentre as mentiras e os oportunismos cínicos do poder socratesista, ninguém atingiu maiores requintes de sádico que Maria de Lurdes Rodrigues. Durante algum tempo iludiu acerca da bondade de algumas medidas até ficar provado à saciedade o descalabro espiritual e o retrocesso civilizacional que a esmagadora maioria das suas alterações visa promover e que redundam neste submeter e subverter a docência pelo prato de lentilhas que constituem propósitos reles de mera finança reles. Forçar o desprestígio e a estupidificação anuladora dos professores é uma linha de acção política que só pode ter como escopo uma maior docilidade social à deriva mentirosa dos nossos governos ao longo de esta democracia de fachada e péssima governança, hábil apenas a sustentar e a cevar uma clientela cada vez mais sôfrega. Senão que rigor e que critérios para a escolha pela ME de João Pedroso, assistente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, por ela contratado, em 2005 e 2007, para sistematizar, em regime de profissão liberal, a legislação sobre Educação publicada nas últimas décadas?! Ao promover a sua contratação por um total de 287.980 euros, a ministra teve em conta o currículo profissional de Pedroso, mas não que este estava sujeito ao regime de exclusividade enquanto professor de uma universidade pública, como noticia o Público. Ou não quis ter. Casos como este nas administrações públicas dão bem conta que os escrúpulos com os cidadãos não têm paralelo quando comparados com a falta deles entre os agentes e actores políticos. Não se admirem com rebeliões. São sinais de africanização. São sinais de letargo e parte das razões para a paz social pública estar em grave perigo.
lkj
3. É já irrelevante que o silêncio ensurdecedor se faça ouvir nas mais variadas instâncias, por exemplo também no gabinete britânico para fraudes graves que se escusou, segundo o Público, a comentar hoje notícias segundo as quais teria pedido às autoridades portuguesas para apurar se José Sócrates "facilitou, pediu ou recebeu" dinheiro para licenciar o Freeport. Contactada pela Lusa, fonte do Serious Fraud Office (gabinete de fraudes graves) manteve a opção de recusar comentar todas as notícias difundidas pela imprensa portuguesa sobre o caso Freeport, não assumindo sequer que tenha em curso qualquer tipo de investigação. Compreensivelmente. Neste momento, por todas as vias, o esforço que se percebe no círculo do PM é o de contenção de danos porque o PM sabe bem que a sua carreira política está irremediavelmente comprometida, aliás, é possível que com ele, outros tropecem caso tais outros não resolvam usar o seu tremendo poder para o ajudar. Amplificado por razões políticas ou não, mais uma vez a verdade e a realidade nuas fazem o seu caminho de única Oposição sólida e credível.
klj
4. Sintomaticamente, sabe-se que o Partido Socialista fez algumas alterações, na sua página de Internet, a um texto sobre o dito relatório da OCDE sobre educação, alterando-o para o formato apresentado na passada segunda-feira e no qual é elogiada a “resistência” da ministra da Educação, indica o “Jornal de Notícias”. De acordo com o JN, no texto original, “ainda disponível no 'site' dos socialistas às 11h24”, o título da notícia era ‘Relatório da OCDE elogia política de Educação do Governo PS’. Porém, às 16h00, já durante o debate quinzenal no Parlamento, com a presença do primeiro-ministro, a página do PS mostrava um novo título, "José Sócrates elogia resistência da ministra da Educação". Não interessa nada a verdade. Não interessa nada a insatisfação e o desgosto que recobrem a vida escolar, a pressão burocratizante bizantina e estúpida, não interessa o assédio à sanidade mental dos professores e as vítimas mortais de uma estresse induzido e completamente desnecessário. O que interessa é a Propaganda, dobrar os factos e a realidade com propaganda. Com um muito pequeno esforço de imaginação, compreenderemos que esta cosmética de última hora a documentos é toda uma lógica procedimental de legislatura: mentir, demagogizar, manipular, dividir, oprimir, usar a Propaganda para ferozmente consolidar uma imagem falsa. Instilar o desânimo e a desmobilização.
lkj
5. Não negando o facto de ser cómodo contestar no contexto actual os orçamentos, deve sublinhar-se que por sistema esta legislatura tem no currículo a prática sistemática da argentinização, isto é, da manipulação dos números e dos indicadores económicos com finalidades políticas, daí que o líder parlamentar do PSD, Paulo Rangel, tenha classificado ontem à noite o Orçamento Suplementar para 2009 como “extremamente negativo e totalmente irrealista”, antecipando o voto “claramente contra” da sua bancada.“, criticando o facto de o Orçamento Suplementar ter sido feito com base em projecções macroeconómicas que já estão “desacreditadas”, o líder da bancada social-democrata considerou que o documento não é mais do que uma “reprise” do Orçamento do Estado para 2009. O ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, vai hoje ao Parlamento defender as novas previsões económicas e as medidas de resposta à crise, tendo o próprio ministro admitido já a possibilidade de tudo ser revisto de novo. Claramente, a Crise sob o prisma governamental e os instrumentos para a debelar são servidos a conta-gotas. Quanto a uma visão estratégica ousada e a medidas antecipatórias, a um alívio inteligente das PME em situação de estrangulamento? Zero.

Comments

antonio ganhão said…
Sócrates é um actor. A vitimização fica-lhe bem. Estas notícias, todas elas, são um maná do céu! Quando a polícia Inglesa confirmar que não tem nenhuma investigação em curso, ficaremos todos com remorsos de termos pensado mal do nosso grande líder! Só os trambolhos do BE levariam este assunto para o debate parlamentar; é exactamente isso que Sócrates quer!

Quanto à crise, à pouca-vergonha patronal já se chamou downsizing, agora chama-se crise.

- Vou despedir os trabalhadores, fechar a firma e abrir outra, começando do zero.
- Mas não podes! Isso é ilegal.
- É por causa da crise.
- Bem sendo assim, não existe alternativa.

Peço desculpas por neste diálogo não ter feito as personagens falar a partir do seu tecido psíquico…
Anonymous said…
Quem está a despedir trabalhadores é o governo! Por que não paga o que deve às empresas e não se interessa por rastrear a sua situação financeira antecipada e regularmente...acautelando aí sim as falências...mas...para dar uma , não as duas mãozinhas a "patrões" do mesmo patronato os biliões aparecem ! Com coberturas tão negras como poços sem fundo... somos um País esburacado e não temos cimento encefálico para o pavimentar...
Lura do Grilo said…
"a ministra teve em conta o currículo profissional de Pedroso, mas não que este estava sujeito ao regime de exclusividade enquanto professor de uma universidade pública"

O que é curioso é um professor do secundário não poder dar explicações.
A diferença entre ter ou não exclusividade numa universidade é muito significativa em termos de salário.

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