SUMIÇOS GÉMEOS, JUSTIÇA PROFANADA


Partindo do princípio de que Leonor Cipriano, a mãe de Joana, a menina de sete anos desaparecida na aldeia de Figueira, em Portimão a 12 de Setembro de 2004, não foi forçada corporalmente ou pretensamente espancada para revelar de esta vez como ocorreu a morte da filha às mãos do tio João Cipriano, parece que, com esta nova versão, revista e aumentada ou diminuída, temos folhetim. O mediatismo do escabroso é incontornável e o pior é que a realidade tende a assumir contornos ainda mais horrorosos do que a mais degradante imaginação. Foi persuadida talvez meigamente e a bem por quem a conhece intimamente. A tendência intuitiva da opinião pública é a associar o McCann Afair com este sórdido caso pela cortina de fumo inicial, pelo dirigismo estratégico numa só tese e porque o sumiço dado aos restos mortais das meninas foi horrendamente perfeito até ao momento, sendo que um caso tipifica o outro nos principais traços ou a insídia lançada de que se tratava de rapto não tivesse sido também o teatro imediato de Leonor em tentativa. A nova versão contrariará a antiga tese de Leonor, segundo a qual João Manuel Domingos Cipriano convenceu Leonor Cipriano a entregar a filha Joana aos cuidados de pessoas estranhas à família, em contrapartida de uma ajuda monetária. A entrega não correu como inicialmente planeado, tendo resultado no assassinato de Joana Cipriano por parte de João Cipriano. O testemunho terá sido documentado e devidamente assinado por Leonor, na cadeia de Odemira, onde se encontra detida. Quando Marcos Aragão Correia, advogado de Leonor fizer hoje o comunicado, pelas 15h00, à porta do Tribunal de Faro, acompanhado do padrasto da menina, António Leandro David da Silva ficaremos a saber que, segundo Leonor, foi um só o homicida e não foi ela. A seguir a esse comunicado, o documento com o testemunho, no total de oito páginas, será entregue ao Ministério Público. A acusação que actualmente está no Ministério Público acusa a mãe o e tio, ambos detidos, da autoria do homicídio e conta, com pormenores dignos de filme de terror como, depois de ter descoberto uma relação incestuosa entre Leonor e o irmão, Joana foi morta, esquartejada e congelada, para depois as partes do corpo serem largadas em parte ainda hoje desconhecida. A morte servia, segundo o testemunho anterior, para evitar que contasse o sucedido ao padrasto. O corpo nunca apareceu. Naturalmente que, em se tratando de Povo, a Justiça gosta de ser célere e exemplar, lavando-se assim da esmagadora massa de casos em que tudo se arrasta ronceiramente. Se a Coca-Cola matou Marx e é um elo de cultura universal, o show deliberadamente hipermediatizado dos bem relacionados McCann tornou-os maiores que todas as coacções que lhes eram devidas e toldou, talvez irremediavelmente, neste caso, todas as hipóteses de a Justiça escapar à forte tenaz dos outros poderes, entretanto sabiamente convocados para agirem na penumbra porque o casal foi alcandorado ao melindre diplomático e o seu problema agigantou-se à imagem de um País.

Comments

antonio ganhão said…
Não caías tu no mesmo espartilho! Cria a tua própria agenda, deixa de regurgitar o que nos impingem!
Anonymous said…
Obrigada! :)

Aproveitei pra visitar teu blog e achei muito inteligente!
Admirável! :D

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