SOB O TRIUNFO DO MANIQUEÍSMO
1. Não há dúvida de que o maniqueísmo é a atitude mental e emocional mais simplista adoptada perante conflitos como o que opõem o Hamas e Israel e tal constata-se na profusão de comentários às sucessivas notícias sobre a guerra na Faixa de Gaza. Toma-se partido, evitando assumir a complexidade crassa que estas questões envolvem e só resolúveis mediante revoluções espirituais e cedências radicais recíprocas, a primeira das quais abdicar do cliché e a desumanização conceptual do outro. Daí que só possa aplaudir a iniciativa de Margarida Santos Lopes quando procura questionar-se sobre a razão de tanto ódio aos israelitas e/ou aos palestinianos, para tanto procurando e encontrando gente como a muçulmana Raquel Evita Saraswati e o judeu Roi Ben-Yehuda os quais se encontram num patamar humanístico onde o conceito de conquista e posse de território, em parte um arcaísmo em face da dignidade humana básica, e lançam o repto: "Escolham o campo dos que defendem a paz, seja qual for o lado da 'fronteira' em que vivem", ideia que liquida os pressupostos de um Hamas homicida do movimento Fatah. Tudo isto por oposição a leitores simplórios e simplistas, como o exemplo dado de um tal de "Fantasma Vermelho, Leninegrado", o qual escreveu em comentário: "Quanto mais rápido o sionismo assinar todas as suas sentenças e certidões de óbito, quanto melhor! Massacre puro e duro. Do mais fiel nazismo que por aí habita. Holocausto aplicado pelos descendentes das suas vítimas. A ironia da História? [...] Morte ao Sionismo! Viva a Palestina!!!" ou o caso de um outro leitor, "Alexandre Pinto, Lisboa", o qual deixou esta quase prece e outra face da mesma moeda: "Israel, que Deus te ilumine, não te falhe a pontaria e a mão pesada. Acaba de vez com a peçonha que habita as tuas fronteiras. Não tenhas dó nem piedade. Avança com botas cardadas e não te preocupes com os chamados alvos civis porque é onde se escondem os terroristas cobardes do Hamas". Naturalmente que para além de quantos deram o salto essencial, o mais cristão dos saltos, como o fizeram Raquel Evita Saraswati e o judeu Roi Ben-Yehuda, há uma lógica de conquista e um desígnio religioso quer no Hamas quer nos sectores mais integristas do Tzahal e que, por princípio, não abdica do território porque abdicar dele é o mesmo que abjurar e abdicar da Fé. Ora, em face de este limite absurdo, pode o mundo consumir-se numa hecatombe natural, pode o planeta quase sucumbir diante de uma invasão hostil extra-terrestre: sempre haverá um israelita e um palestiniano terçando obuses e coletes armadilhados entre si e para quê? Pela posse reclamada de um pedaço de deserto ancestral. O artigo de Margarida Santos Lopes é como a esponja embebida em vinagre aos pés da cruz. Cristo estava ali para padecer e morrer. Não quis humedecer os lábios com tal analgésico, não havia ali paliativo que lhe valesse. Nada a fazer por Gaza e pelos encurralamentos populacionais palestinianos na Cisjordânia.
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2. Se as mortes fossem golos num jogo de futebol macabro, todos os golos eram autogolos e se fosse o Tzahal às cegas sem imaginar ou calcular de que forma o Hamas armadilha e usa as pessoas como arma mediática de martírio involuntário, o Exército israelita nunca incorreria pela Faixa de Gaza para ter de admitir depois imensas vezes ter disparado morteiros desta vez contra uma escola na Faixa de Gaza e outro dia contra um putativo hospital: contra essa escola onde de esta vez pelo menos 30 palestinianos foram mortos, porque os soldados se limitam a responder a disparos efectuados a partir dos locais onde se acantonam vítimas e talvez sejam obrigados a expor-se à morte como armas, uma vez mortas, mediáticas prontas a acender uma Ira Pan-Islâmica e a Ira de uma certa Esquerda Comunista islâmico-conivente ou uma Ira de activistas normalmente Alheados de outras vítimas equivalente. Não significa rigorosamente nada que as Nações Unidas garantam que a escola estava claramente identificada com bandeiras da organização porque é de esses argumentos que vive o Hamas e os ser letais para os israelitas nas raríssimas hipóteses que têm: “Investigações iniciais revelam que foram disparados morteiros contra as forças israelitas de dentro da escola”, declarou um porta-voz militar, depois de as agências internacionais terem noticiado o ataque. “Na resposta, as nossas forças dispararam várias rondas de morteiros contra aquela área”, adiantou a mesma fonte do Tzahal, dizendo desconhecer o número de mortos resultantes deste ataque. Os serviços de emergência palestinianos referem que 42 pessoas morreram e perto de uma centena foram feridas pelos estilhaços, enquanto as Nações Unidas falam em 30 mortos e 55 feridos. Neste campeonato de mortos, a guerra é também sórdida no plano mediático e a mediatização dos números um espectáculo deprimente onde já há profissionais exímios nesse manejo cínico, propaganda de eficácia de um insectcida.
Comments
O
ódio é de índole religiosa, untado com armas de todos os quadrantes interessadíssimos...no petróleo!
Helena, o problema ali não é o petroleo, mas sim o fanatismo religioso, de parte a parte e... algo mais valioso que o petroleo: a água