POR QUE INDECÊNCIA COMEÇAR A CORTAR

Não há dúvida que alguns desastrosos políticos profissionais portugueses lhe desejam imitar os tiques, os slogans, aquela retórica bem intencionada cheia de uma intencionalidade moralizadora, galvanizadora, que visa mergulhar às raízes mais profundas dos valores iniciais, mas desde logo parece interessante saber se esses que adoram a crosta dos modelos lhe seguirão o exemplo, agora que o presidente norte-americano decidiu “apertar o cinto” a Washington ao anunciar o congelamento dos salários de alguns membros seniores da Casa Branca e ao decidir apertar as regras em relação ao trabalho de antigos “lobbyistas” que trabalham para o governo. Até parecem em Portugal, onde pelo contrário se elege a sociedade civil como o alvo experimental de uma Reforma Desastrosa, sofregamente faseada, feita para criar uma guerra e conflitos de toda a sorte. Veja-se o pugilato que as Salas de Professores hoje testemunham e digam se não é obra. Por isso mesmo, veja-se por onde começa Obama: “Durante este período de emergência económica, as famílias estão a apertar os cintos e Washington devia fazer a mesma coisa. É por isso que vou decretar um congelamento dos salários aos meus colaboradores seniores da Casa Branca”, disse. Usar de esta mesma ética governativa e de esta mesma transparência em Portugal vem com trinta anos de atraso. O cancro que nos carcome as possibilidades de sermos tão normais como os demais países europeus desenvolvidos já vai adiantado e as suas metastases alastraram fazendo-nos um país terminal. A isto que Obama anuncia chamo eu um bom começo e exemplar para um País nos antípodas do respeito pela coisa pública, a não ser que seja só o povo a pagar e não a aristocracia partidocrática, retomar e cumprir com dois grandes temas da sua campanha e pôr em prática novas regras restritas aos antigos “lobbyistas” que trabalhem no governo ou não tivesse o consulado de Bush todo ele sido contaminado com o lóbi do petróleo e das armas: ao explicar que irá proibir pessoas que trabalhem no sector privado como “lobbyistas” de trabalharem em matérias sobre as quais tinham anteriormente feito “lobby”, Obama pôs ainda em marcha uma proibição aos presentes dados por “lobbyistas” e prometeu um maior acesso ao público a documentos governamentais sensíveis (envolvendo a segurança nacional e assuntos de privacidade). Se, no plano dos lóbis de interesses previamente tutelados e tão suculentos, pensarmos em Jorge Coelho, Joaquim Ferreira do Amaral, que têm algures uma consciência que é uma pechincha, se pensarmos no Constâncio que agora responde rasteiro e se digladia com a verticalidade do Dr. Cadilhe pondo à mostra de que lodo é feito, havia muito trabalhinho a fazer e muita babugem a secar. Agora, digam-me se esta ousadia de Obama terá imitadores no Governo-Crise em Portugal?! Eu já sei que não. Num momento em que a agência de notação financeira Standard & Poor's baixa o ratting de Portugal, o que estoura de vez com as pretensões faraónicas e despesistas do Governo, era necessário começar a fazer pela vida, em vez de encontrar na Crise Internacional, no Governo Santana Lopes, os velhos e gastos sacos de desculpas. E digo mais: não é uma coisa boa, há males que vêm por bem.