RAIVA NA RUA, SINAIS PRECURSORES

1. É sempre com pezinhos de lã que grandes levantamentos mais que justificados se desencadeiam nas sociedades injustas. Na Grécia, a coisa ainda dura. E agora algo de semelhante deflagrou na Bulgária e, quem sabe um dia de estes, contra o Fingimento de Acção e Boa Governança, na verdade Chorrilho Cleptocrático Despudorado em Decurso num Portugal em estado adiantado de amouchamento e cuidado com a toada impante do Presidente do Conselho. Tudo começa suavemente: um velho líder, bem rico e esperto a enriquecer e a palmar o seu País, começa a escrever uns artigos de opinião no Diário de Notícias, alarmado com a miséria e incúria social e com os desníveis da pobreza extrema em face da riqueza extrema, preocupado que a Rua portuguesa possa vir por aí afora enraivecida e antigovernamental, e escreve isto enquanto passa a mãozinha pelo pêlo do Presidente do Conselho e diz que sim, senhor, é com ele que se vai e é com ele que se está. Cínico oportunista impostorão. Depois estalam uns escândalos à boca pequena, um feixe de despudores públicos, de leis aselhas ou malévolas ao interesse e erário públicos, solta-se e divulga-se, divulgam-se aliás por e-mail e voam por trezentos mil sítios em poucos dias. A consciência do engano e do logro cresce e alastra. Mais tarde, quando menos se espera, estão as ruas atoladas de uma turba irada e firme. Pelo menos, algo de muito semelhante a isto deve ter sido certamente o que se passou na Bulgária: dezenas de manifestantes entraram em confrontos hoje com a polícia na capital da Bulgária, quando um evento antigovernamental degenerou num motim. A violência eclodiu em Sófia durante um protesto pacífico de duas mil pessoas em frente ao Parlamento local, incluindo estudantes, agricultores e ecologistas, que, esquecidos de que existe um outro país ainda mais corrupto e mais gamado e mais palmado que o deles, chamado Portugal, disseram estar fartos da vida no país mais pobre e mais corrupto da União Europeia, segundo eles. E foi lindo saber que os manifestantes pediram a demissão do Governo liderado pelos socialistas devido ao seu fracasso em combater a generalizada expansão do crime e em combater os problemas económicos gerados pela crise global. Corajosamente, algumas pessoas gritaram “demissão” e “Máfia” e foram ouvidas em Portugal, revelaram fontes do Executivo com as orelhas chamuscadas: mas por que motivo todos os outros povos, igualmente enganados e igualmente oprimidos e explorados por uma nova elite podre de oligarcas sem valores nem escúpulos, nem formação humana nem sentido cívico e de serviço ou ética públicos, são mais expeditos até em se manifestarem e dizerem o que realmente lhes vai na alma?! Em adiantado estado comatoso, Portugal vai sendo violado, sodomizado, mas não acorda nem há quem o acorde. Se calhar fina-se feliz com o facto de o país descer no "rating" da S&P e ter todos os indícios de declínio ou porque as "reformas" do Presidente Iluminado do Conselho não passaram de retórica e pretexto para oprimir, dividir, confundir e que nada está a ser feito de sério e eficaz para inverter a situação de miséria galopante a qual se agrava e vamos vendo pelos números brutos da economia nacional que os sacrifícios feitos pelos portugueses e que nos venderam valer a pena de pouco ou nada valeram e ainda há quem pense que é possível gastar mais do que se ganha, que é possível o país gastar mais do que produz e julgue que mais importante é ter no governo quem vista bem. Força, Bulgária. Não tens um Ronaldo em quem te 'alimpes', dourada merda com indiscutível mérito internacional na bola, alguém com quem te alienes de glória efémera e pífia, mas tens colhões, Bulgária, para te rebelares na rua contra o que bem entendes. Será que o seu governo já vem com falinhas mansas, a medo, aprumadinho de respeito pelos cidadãos?! Ou a fingir tal progresso de atitudes, como o nosso e tarde de mais?! O homem berra no Parlamento, martela medidas repetidas com muita moral aos shô-deputados e tenta emendar a vergonheira dos ajustes directos de cinco milhões de euros com restrições para inglês ver só para parecer menos obsceno. Hoje trouxe um pacote repetido com medidas repetidas para abafar a inacção.

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2. É o Estado de Guerra. Quando um Governo começa a suscitar dúvidas internacionais e nacionais, tudo o que lhe procura sair das mãos, leis, medidas, coisas eleitoralmente avulsas, suscitará dúvidas. Doravante, os atritos grosseiros entre o PR e a AR ou, melhor, o PM, estarão na ordem do dia, com dificuldades e pedidos de justificações às leis emanadas da AR por iniciativa, claro, do PS, senão vejamos como o Presidente da República, Cavaco Silva, devolveu hoje mesmo ao Governo o projecto de decreto-lei que revia as bases da concessão rodoviária nacional atribuída à EP – Estradas de Portugal porque precisa de “informação adicional” que considera indispensável para analisar o documento “para efeitos de eventual promulgação”. O Governo iniciou em 2007 uma reforma do financiamento da rede rodoviária, por considerar basear-se num “modelo desequilibrado” que acentuava as assimetrias regionais e onde entre o Estado e a Estradas de Portugal não estavam bem definidos os direitos e as responsabilidades associados às concessões. Com as falhas grosserias ao novo EPA dos Açores, todas as dúvidas são poucas.