CURTO-CIRCUITO DEMOCRÁTICO



1. Predomina a sensação de que há uma geração caduca que não larga mão da política nacional: os políticos que tinham 18 anos em 1976 e que ingressaram nos partidos do arco poder, PP incluído. Uma geração passada, ultrapassada, sem capacidade de mobilização ou ideário novo, morta no plano de um serviço publico destituído dos tiques, jogadas e lógicas de aparelho partidário, morta no plano de uma retórica marcadamente patriótica e sentido nacional, morta quanto a um vínculo vital com as distritais de onde provieram, morta porque eivada de um insaciável espírito devorista dos recursos do Estado, dos lugares no Estado e das transições em beleza de um Executivo eleito para curar do Estado para os CEOs privados dentro da pasta anteriormente tutelada. Não se deram conta de que o seu tempo passou. Teremos de ser nós a avisá-los e a lembrar-lhes que já passaram e estão mortos para o País porque o País também morreu para eles. Seria tão bom uma inspiração pentecostal para saírem de cena a bem.
lkj
2. Os caminhos de novidade e de ruptura terão imensamente a ver com o pedido que os motociclistas de Lisboa pretendem apresentar na segunda-feira à câmara para que os veículos de duas rodas possam circular nas vias destinadas aos transportes públicos. Mesmo levando em conta os argumentos contra com base na orografia da cidade e que é exigente para quem pedala, tal medida representaria uma pedrada no charco em matéria de ambiente e de saúde pública, e seguiria aliás o bom exemplo de Londres. Seria de agilizar tal medida ao encontro do que o Moto Clube Virtual prescreve neste domínio para a cidade de Lisboa: adoptar a política de "livre circulação de veículos de duas rodas nos corredores de transportes públicos", como diz Pedro Rodrigues, já que em Londres os motociclos vão passar a ter autorização camarária para utilizar os corredores "BUS" a partir de segunda-feira. Era de nem hesitar nem perder mais tempo.
lkj
3. A hipocrisia política atinge em Portugal altíssimos níveis de toxicidade como o revela o pró-forma das reacções da treta ao discurso do PR. Mesmo quando o líder da Madeira acha o discurso feito pelo Presidente da República “objectivo e correcto”, mas acha deslocado todos os partidos políticos terem concordado com Cavaco Silva, principalmente o PS que é o “grande causador de toda esta situação”, esquece-se que o seu Governo Regional tem sido responsável por uma servera quota parte de ridicularização da figura presidencial e a contaminação da sua autoridade e respeito com práticas democráticas, no respectivo parlamento, de baixa extracção ética e tolerância ainda mais baixa. É bem verdade que os partidos não respeitam a PR, e o afrontam e instrumentalizam na sua mercearia de interesses, mas o estado do país que merece reflexão envolve claramente a Madeira de Jardim.

Comments

Anonymous said…
1 - De acordo. É uma geração deslumbrada com a Liberdade. Mas morreu: não pensou, não foi honesta, não criou soluções, enquistou-se e serviu-se. Não concebe outra vida que não ligada à política ou a orbitar cargos de nomeação política.

2- Sem palavras

3- Alberto João, sabemos é truculento, tem uma forma de estar na política bastante destravada mas diz as verdades que outros não gostam de ouvir. Tem obra feita e muito boa. Não é perfeita: não.

Quanto às cenas protagonizada pelo deputado do PND são no entanto bastante menos repugnantes que a recepção de Paulo Pedroso no Parlamento.
André said…
um feliz 2009!
Unknown said…
Eça de Queirós, 1871ou 2009???

O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: o país está perdido!

Eça de Queirós, 1871

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