KHADR, GUANTÁNAMO AGRILHOADA

Não se tratará de algo meramente simbólico, mas de um gesto de valor bem significativo para um entendimento e uma prática da Justiça cada vez mais alargada e bem exemplificada, no âmbito universal, que finalmente esse oportunismo sádico que é Guantánamo seja definitivamente encerrado. A justiça preventiva do terrorismo mediante a morte bombardeada, a tortura metódica ou o emprisionamento cego é uma cretinice só engendrável nas cabeças de alfinete de Dick Cheney, that fat fucking and now sitting Dick, de Rumsfeld ou Bush, simplórios esforçados, mas sem o must divino que as escolhas do povo representam, quando são verdadeiramente do povo e não forcejadas maquiavelicamente. Pelo contrário, Barack Obama, um homem sensível, culto, marcado pelo exemplo de pedagógica e combativa misericórda em M-L. King cujas consequências são velhas e repetir-se-ão até ao fim dos tempo: morrer sob as causas mais urgentes e justas, desejou desde logo encerrar Guantánamo e todas as possibilidades de cretinice excepcional por ele abertas, embora sabendo que tal não seria fácil. Pois a ordem para o fazer é já das primeiras da sua presidência. Porém, conforme revela o Público, a urgência em agir para cortar com o legado da Administração Bush tem razões práticas: caso Obama não fizesse nada para travar os processos nas comissões militares da Base Prisional em solo cubano, Omar Khadr começaria a ser julgado já na segunda-feira, e por isso mesmo a suspensão do julgamento de este canadiano é também já a primeira consequência saborosa da primeira decisão de Obama: parar durante 120 dias todos os processos que decorrem em Guantánamo para que estes sejam revistos. Ora, Khadr tem 22 anos e foi capturado no Afeganistão em 2002, aos 15 anos. Para além da idade, há outro aspecto que o distingue - é há muito o único ocidental na prisão. Se o julgamento avançasse, a Administração Obama daria os primeiros passos enquanto os Estados Unidos julgavam uma criança-soldado, pela primeira vez na sua história. Havendo, como há cépticos de Deus e dos Homens, cépticos dos líderes e da obediência lúcida dos povos tantas vezes só acrítica e indiferente, continua a ser saboroso o facto de haver um homem que pratica desde já uma forma de poder que muito se aproxima do futuro da democracia: uma que envolva a participação directa dos cidadãos, mediante fora transparentes, onde a reflexão e a experiência contam, os erros se evitam e as maiorias antes de meramente representadas, se exprimem directamente com conhecimento de causa e outro tanto de paixão e empenhamento. Ou isso ou a sistemática Máquina de Furtar que nenhuma Revolução soube destruir no cerne dos Estados, uns mais que outros, Portugal certamente mais que os demais países desenvolvidos da Europa ou não divergiriamos tanto como temos divergido. É elementar: os fundos comunitários desviados, offshorizados, fazem muito bem a poucos estafermos espertos e ocultos e não puderam nem podem representar qualquer bem movendo e alimentando de recursos e bem-estar sólido uma sociedade como a nossa, a vender a falácia de vencimentos de vergonha há uma eternidade e a praticar o Furto Qualificado e em Espécie, legislatura após legislatura. Os números macroeconómicos não enganam: além de incompetência significa que andamos a ser enganados por um PRACE que se tem feito só do lado fraco, fácil e obediente. O lado de onde sopra a mentira e o abocanhar à ceguinho-seja dos recursos do Estado, esse é sabido e consabido e chama-se PS e PSD clientelares.