CONTRA A OBSCENA ISENÇÃO

Não percebo a que santo rezam os opinadores prostituidores da própria consciência na questão manhosa da judicialização da política. Só logram confirmar o quanto esta República está podre na medida em que se aceita como normal e não passível de escrutínio o rosário de crimes óbvios de um dado político amplamente sujo, mas elevado ao estatuto de santo benfeitor e mito intocável. Se esse político roubou descaradamente o erário público; se promoveu um sem-número de negociatas gravosas para as contas públicas; se arrastou com dolo o País para a bancarrota apenas pelo capricho de manter intactas as condições de reeleição, então os prostitutos da opinião que enfiem os seus pruridos quanto à suposta judicialização da política. Os políticos são cidadãos. Os políticos cidadãos convertidos em impunes e imunes são um escarro-em-gente nos demais cidadãos à sua mercê e não sujeitos à mesma obscena isenção arbitrária. Uma ditadura não faria pior. Não se pode despenalizar políticos que por incúria, malícia e avidez extremas em poucos anos explodiram com os equilíbrios financeiros de um Estado. Se esses políticos comprometeram gravemente o futuro dos nossos filhos, se de muitas maneiras lesaram o seu País, não é a pequena barganha das contas eleitorais que nos fará justiça. Democracia não é isto, ó vacas da opinião sagrada, cabras da cegueira facciosa! A lei que nos deveria fazer iguais, verdadeiramente iguais perante si, não passa de caricatura graças a delicados exílios e ainda mais delicados modos de defender o indefensável.

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