PAÍS DA AUSTERIDADE CÍVICA E RELATIVISMO ÉTICO

As sondagens dos últimos anos habituaram-nos a uma sistemática artificialidade absolutamente contrastante com o sentimento aferível nas ruas. Partissem de onde partissem, pareciam tão falsas, que geravam ou um desânimo ainda mais fundo, com desmobilização de votantes e sonhadores mutantes de políticas e de Regime, ou originavam aquela simples percepção de um tipo novo de condicionamento mentiroso e manipulatório com efeitos e dividendos notórios a favor do PS, exigindo aguerrida denúncia e resiliente reacção da pluralidade crítica em ascensão. Vigorava então a retórica da eficácia comunicacional, à falta de qualquer outra. Dessa eficácia comunicacional para papalvos e paus-mandados resultavam perversões e clivagens na vida pública: desde a poluição ruidosa como manobra de diversão do essencial, a bloqueios informativos com formatação estalinizada, passando pela forte desconfiança dos conteúdos governamentais veiculados. Era já a esterilidade das políticas e o descalabro da económico-social habilmente disfarçados. Privilegiava-se a Ficção da Acção e as manobras do Poder, meio e finalidade, em detrimento da verdade, de um sentido de serviço recto e abnegado às pessoas. Tempos de absoluto e asqueroso relativismo ético. Hoje, a divulgação de uma nova sondagem. Ela mente, claro. Mas o clima é benigno. Não há lobotomia mediática quotidiana sobre a Opinião Pública. Não se pratica a sobreexposição tóxica, estelar, circense, do produto adulterado primeiro-ministro que deixou de ser produto e voltou a ser gente. Cessou a horrenda a meticulosa construção dúctil do discurso e da pose para parir patranha e insídia. De resto, a esmagadora dos votantes e dos sondáveis não vota. Nunca. Não sabe nem quer saber disso por se encontrar em austeridade cívica há mais de quarenta anos, pavlovianamente condicionada a alhear-se de judicar e decidir Política. Se a esmagadora maioria dos cidadãos pudesse votar segundo uma esperança nova, mudaria quase tudo o que diz respeito à cartelização partidária do Parlamento e à miséria dos seus jogos florais perfeitamente infantis e indiferentes ao País. Nessa sondagem, todas as lideranças partidárias descem, mas se nas intenções de voto nos partidos, sobem PSD, CDS e BE, afunda-se o PS. Não há fuga à avaliação serena da profusão de desmandos acumulados. Já só faltam Consequências.

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