IMUNDÍCIE, O RASTO RASCA DE JOSÉ SÓCRATES

«Em 2007, quando o País começou a conhecer o imbróglio da licenciatura de José Sócrates, fiz questão – era então líder do PSD – de fazer uma declaração pública sobre o assunto, recriminando tamanha trapalhada, contradição e falta de transparência. Recordo-me bem de que foram poucos os que, nessa ocasião, falaram sobre o assunto. No que me diz respeito, cheguei mesmo a ser criticado por algumas pessoas do meu próprio partido que optaram por se vergar ao poder de Sócrates e sancionar o seu obsceno comportamento. Agora que o Correio da Manhã deu a conhecer detalhes inqualificáveis sobre o caso, através das escutas divulgadas, já praticamente ninguém deve ter uma discordância em relação ao que então afirmei: este homem é um mau exemplo, e os maus exemplos contaminam a sociedade. Denunciá-lo não é uma questão política ou partidária. É um imperativo de higiene e decoro. No que à educação diz respeito, em vez de dar aos jovens o exemplo de que tirar um curso superior é uma questão séria, que exige rigor, disciplina, esforço e mérito, a imagem que o ex-primeiro-ministro passou para a juventude foi o da habilidade, do truque, do chico-espertismo, da mera preocupação com o título académico. Em relação à vida política, o exemplo que irradiou para a sociedade foi ainda pior: foi o exemplo de quem usa o poder para pressionar, enganar, ocultar e manipular, através de métodos que são indignos de quem dirige um país e de quem serve o interesse público. Não gosto de ser alarmista e de cultivar falsos moralismos. A verdade, porém, é que começa a ser tempo de sermos mais exigentes em relação à democracia que temos e aos políticos que elegemos. A crise que vivemos não é apenas económica, financeira e social. É também uma crise de valores. Cumpre-nos contribuir para os reintroduzir na vida colectiva obrigando, desde logo, a construir uma cultura do exemplo. O bom exemplo tem mais força do que as melhores leis que se aprovam e do que os discursos mais brilhantes que se fazem. Ao contrário, os maus exemplos envenenam a sociedade, contaminam a política e ameaçam a democracia. Afinal, a política não pode ser a arte do vale-tudo e palco de actuação de gente mesquinha e sem escrúpulos.» Marques Mendes

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