DO ILIBAR INDECENTE

Em Portugal, nunca é de mais recordar, a impunidade ao mais alto nível soma e segue, coisa que se espelha na morosidade obscena dos processos mais pesados e no poder de prescrição e obstaculização proporcionados pelo dinheiro, pela influência por via do conluio político-económico. É simplesmente por isso que dou o benefício da dúvida ao Correio da Manhã nas matérias que ousa abordar e que contrariam a lógica de opacidade dos governos do passado recente, matérias que implicitamente explicam a nossa indigência compulsiva de agora. Tomemos como exemplo as escutas a Sócrates: o escândalo e a porcalheira são evidentes porque se conclui que a pressão que o Primadonna exercia sobre jornalistas e bloggers, ou o modo como orquestrava tentativas de conjugar versões menos melindrosas acerca da sua pseudo-licenciatura, eram o cerne de toda a sua meticulosa e artificialesca construção imagética. Por isso não vejo qualquer intenção política, mas profiláctica e moralizadora, na linha editorial que legitimamente alveja o PS, o multi-queimado Sócrates e os seus galfarros. O CM faz o que pode para iluminar um perfil, expor algumas verdades, revelar o que nos é legítimo conhecer do célebre autor desta pérola sintomática e simbólica: «Estou bem assim ou assim?» Para os que buscam a verdade, não há nem Direita nem Esquerda partidárias, somente boa governança, seriedade ou falta dela, transparência ou hábeis formas de peculato e traficância. Não vejo por que diabo se há-de apodar de "fomento do ódio populista a políticos" o apuramento de todos os actos abusivos que certos políticos praticaram, eles que concitaram sobre si todos os holofotes, todos os negócios em benefício pessoal, todo peso das manipulações mediáticas e decisões castrantes, muitas vezes as mais cretinas e enviesadas, como as que Sócrates pariu contra docentes ou magistrados. O mau carácter dos que nos tutelem interfere com o nosso presente e com o nosso futuro. Um dia tributaremos extrema gratidão ao Correio da Manhã, ao Sol, e aos corajosos magistrados de Aveiro. Sócrates macaqueava as instituições. Sócrates escarrava mentira e contempto por todos os poros para cima do Parlamento e dos cidadãos. Sócrates hostilizava gratuitamente o BE e o PCP e todas as vozes plurais que se levantassem. O Estado era Sócrates e a perversão vaidosa e autocentrada era ultra-evidente e a coisa mais insultuosa e ofensiva desde a velhice petrificada de Salazar. O Estado de direito, a decência das instituições, a democracia, tudo foi torcido e fornicado por Sócrates com a complacência de opinadores, de muitos avençados e ajustados directamente. Dentro do PS vigorava a mordaça e a omertà viciosa da falsidade. Eram raríssimos os que procuravam romper com o absolutismo cretino e unipensante socratino, e os que o ousavam fazer foram literalmente linchados na praça pública, aviltados e achincalhados pelo Câmara Corporativa ou pelo Val-de-Merda. Henrique Neto, Manuel Maria Carrilho viram a aberração e sofreram com ela. Foram perseguidos exemplarmente. Seis anos de pulhice socratesiana, de lobotomia, tráfico e amiguismo político mais porcino pelo que a privacidade do servidor público Sócrates é, hoje e amanhã, do nosso inteiro e absoluto interesse e deverá ser cabal e absolutamente escrutinada, apesar de Pinto Monteiro e apesar de Cândida Almeida, apesar de Marinho e Pinto e apesar de todos os pintainhos facciosos protectores do que não tem perdão. O Povo português não é vingativo nem ressabiado, mas não pode ser tomado por parvo nem tomado por palhaço como os socratistas ousaram tomá-lo. Temos toda a legitimidade legal, moral, para uma campanha de apuramento do mau carácter de quem nos conduziu à pré-bancarrota. Sócrates não é o único culpado por ter prostituído o Estado para soterrar e disfarçar os seus assuntos privados mal resolvidos ao telefone. Mas temos de começar por algum lado e sobretudo pelo mais óbvio.

Comments

floribundus said…
como diria o falecido Dr Barreirinhas

'a vitória é difícil,
mas é noss'

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