FUMOS DE RUÍNA NUMA BANDEJA COVARDE
Pena que não haja coragem para castrar o monstro a bem dos clientes que pagam e não bufam: «Bem se sabe que Henrique Gomes
não é só um santo ou uma vítima desta
história: no seu percurso no Governo revelou
falta de senso político, desbaratou apoios,
aliou-se em excesso ao anacrónico grupo do
nuclear e deu de si a imagem de um D. Quixote de lanças apontadas às eólicas e,
principalmente, à EDP. Mas nenhum destes
erros e debilidades consegue esvaziar a
constatação de que, após nove meses de
Governo, e apesar das pressões da troika, ele
foi o único membro do Governo a bater-se
pela renegociação das “rendas excessivas”
que supostamente as eléctricas recebem do
Estado. O problema político desta demissão
está precisamente aqui, no contraste entre
quem quis discutir os negócios ruinosos da
era Sócrates e os que tergiversam e adiaram
qualquer tentativa para o fazer – não é
uma questão das empresas, que têm de
defender os interesses dos seus accionistas;
o problema está também no desfecho do
processo, com o membro do Governo mais
favorável às negociações a ter de sair de
cena. Bem pode Passos Coelho dizer que o
Governo não cedeu às pressões da indústria
da electricidade, que a ideia, lógica e
comprovável, com que o país fica é que um
governante se meteu com a EDP e pagou cara
a ousadia. E é por isso que Passos e a maioria
não devem subalternizar esta demissão: um
Governo que caia na suspeita de pactuar com
os mais fortes em detrimento do interesse
geral é um Governo fraco e ferido.» Público, Editorial, 14 de Março, 2012
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